Sinais vitais... Como anda a sua saúde?
Sinais
vitais... Como anda a sua saúde?
Por
Alessandra Leles Rocha
Seguindo os
conselhos de Fernando Pessoa, “navegar é preciso” 1.
Então, naveguemos observadores ao mar tempestuoso de dúvidas que se ergue
diante de nós. Afinal, a Pandemia por si só não irá exaurir as respostas e nem
irá acalmar o coração para se navegar em tempos de calmaria.
Antes mesmo que a
tsunami do imponderável varresse nosso espaço e levasse para longe a tranquilidade
de uma pseudossegurança, será mesmo que dispúnhamos de um conhecimento palpável
e suficiente sobre a vida, no que tange à saúde? Tenho cá minhas ressalvas.
Até aqui parecíamos permissivos
e superficiais em demasia frente às prioridades. Nada parecia efetivamente
levado muito a sério. Muita postergação. Pouco aprofundamento. E a prevenção
distante de assumir a ponta e colocar fim ao contínuo remediar com placebos e
alternativas de botequim.
Eis, então, que um
vírus desconhecido cruzou o espaço mundial e atingiu a “saúde” de milhões de
pessoas. Sem respostas sobre os impactos devastadores ou não, a incerteza sobre
quem sairá do outro lado, vivo ou morto, paira no ar.
Mas, é observando a
lista de desafortunados que a reflexão merece total atenção; pois, muitos desses
contavam com histórico médico de doenças preexistentes.
Olhando para o
Brasil, esse país de dimensão continental e de discrepâncias e desigualdades
absurdas, o absoluto se torna relativo em um piscar de olhos. Será mesmo que
todos os cidadãos brasileiros conhecem de fato o seu histórico de saúde?
Em datas expoentes como
o Dia Mundial do Câncer, Dia Mundial do Rim, Dia Mundial de Enfrentamento à
Tuberculose, e tantas outras, em que ações diretamente voltadas à população são
desenvolvidas a fim de prevenção e diagnóstico precoce, não é raro encontrar
indivíduos doentes e que não cogitavam à possibilidade de ir ao médico
voluntariamente para saber como andava a sua saúde.
Nessa lista há
muitos hipertensos, diabéticos, doentes renais, tuberculosos, sifilíticos etc.,
vagando pela sociedade à margem do conhecimento sobre o seu estado clínico
geral e de quaisquer tratamentos disponíveis pelos serviços de saúde. Portanto,
vítimas em potencial de agravos ainda maiores, os quais podem resultar em
demandas médico-hospitalares mais complexas e onerosas.
A questão é que,
considerando diversos aspectos burocráticos os quais permeiam o atendimento
público dos serviços de saúde e o elevado custo de acesso ao setor privado,
milhares de pessoas desistem de fazer valer esse direito universal fundamental
e apelam para medidas paliativas, placebos e tratamentos alternativos sem
comprovação científica e real eficácia.
No entanto, alheio a
tais considerações, o COVID-19 quando chega leva muita gente para os serviços
de saúde e ponto final. Ali, naquele momento, tratamentos que deveriam estar em
curso ou já devidamente estabilizados colocam-se como grandes obstáculos na
corrida pela sobrevivência. Disputam palmo a palmo com o vírus matador. De modo
que o custo desse contexto se torna demasiadamente elevado, inclusive, podendo
custar à vida de alguém.
Mas, a ótica de
análise também dispõe de outro viés. A Pandemia colocou a Ciência a correr em
busca de medicamentos, de tratamentos, de vacinas para conter o avanço do
vírus. Tudo isso requer tempo hábil para que as respostas sejam devidamente
fundamentadas e precisas.
Então, estudos de caráter
experimental e monitorados por equipes médicas altamente qualificadas têm se
colocado à disposição de agilizar esse processo.
Segundo a amostragem
e o protocolo estabelecido nesses testes é possível estabelecer uma expectativa
promissora ou não e, particularmente, verificar os níveis de efeitos colaterais
e adversos nos pacientes.
De modo que
situações como a atual não trabalham com testes de medicações fora do espaço dos
serviços médico-hospitalares ou de protocolos científicos.
Se já existe uma
fragilidade quanto o grau de conhecimento sobre o histórico do estado clínico
pregresso da maioria dos pacientes, imagina expor essas pessoas a
experimentações ou medicações diversas sem nenhum controle?
A testagem desses
protocolos e medicamentos pelas equipes médico-científicas é justamente o que
vai permitir avaliar os prós e contras; bem como, garantir a segurança da
integridade dos pacientes envolvidos. É de extrema imprudência aclamar
quaisquer medicamentos, tratamentos ou vacinas antes que a Ciência o faça.
Veja que alguns
remédios para controle da Pressão Arterial, por exemplo, devem ser ministrados
pela manhã, outros no fim da tarde, alguns em dose única diária, outros duas
vezes ao dia. Isso porque cada paciente precisa atender a uma demanda que só o
médico pode estabelecer a partir do acompanhamento de seu prontuário e do
conhecimento científico que dispõe.
É assim que deve ser
para todas as medicações, imunobiológicos, tratamentos que foram autorizados
cientificamente, ou seja, cada caso é um caso a ser observado pelo médico.
Também há situações
em que esses elementos ficam restritos a administração apenas pelos serviços de
saúde, não sendo encontrados para aquisição em farmácias e drogarias, dadas as
medidas de segurança que se impõem por conta de eventuais e graves efeitos
colaterais.
Por mais
desconfortável que seja para milhões de pessoas a experiência dessa Pandemia, infelizmente
não há formula mágica que irá resolver tudo a tempo e a hora como desejam. O
vírus não funciona assim. A Ciência também não.
Talvez, o melhor que
se possa fazer agora é começar a olhar para si mesmo. Cuidar de si mesmo. Saber
como anda a própria saúde. Melhorar os hábitos e comportamentos alimentares.
Enfim... A Ciência faz a parte dela, mas se ninguém fizer a que lhe pertence nada
adianta.
Talvez, seja hora de
medir pela própria régua a dimensão do risco que está disposto a correr nesse ou
em qualquer outro momento da vida. De cobrar eficiência, competência e
acessibilidade a esse Direito Universal. De entender que a vida é bilhete único, se você
perdê-la acabou. Porque, “Embora quem
quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu” (Sarah Westphal).