14 Juillet - Liberté. Égalité. Fraternité.


Liberdade. Igualdade. Fraternidade. 
Razões para pensar!




Por Alessandra Leles Rocha




Há 230 anos a história escrevia a Revolução Francesa. Um movimento que mudou os rumos da Europa e, porque não dizer, do mundo. Pela primeira vez se assistia a insatisfação popular, insuflada pelas ideias revolucionárias, trazer o declínio de uma monarquia pelos rigores da força sanguinária da guilhotina.
Longe de ser uma boa conselheira, a penúria que desencadeou tamanha insatisfação não veio, de fato, amparada pelo alicerce da transformação efetivamente necessária. Por algum tempo, bem mais do que as cabeças coroadas rolaram pelo solo francês sem, contudo, consolidar a liberdade, a igualdade e a fraternidade que tanto se esperava alcançar.
Aliás, o receio de que a iniciativa popular ganhasse força na Europa, logo fez emergir uma Revolução Industrial liderada pelas elites dominantes, em pleno século XVIII, na Inglaterra, acenando para as camadas menos favorecidas da população o lugar que deveriam ocupar na sociedade, ou seja, como mão de obra para a acumulação de riquezas dos poderosos.
Nada de pães, nem brioches. O mal que a Revolução Francesa pensava estar contido na Realeza estava no próprio ser humano, na medida do seu poder subjetivo e material. Infelizmente, a espoliação da base da pirâmide social é uma prática que remonta desde os primórdios da civilização e não parecer ter fim, dadas as recorrentes práticas para obstaculizar a construção de uma sociedade mais justa. Quanto maior a base da pirâmide, mais estreito é o cume beneficiado.
A luz do ideário revolucionário francês foi uma chama que se apagou muito rápido. Afinal os interesses econômicos dos grupos sociais minoritários sempre se sobrepuseram aos demais, amparados por doutrinas desenvolvidas e custeadas para esse fim. De repente, ficou claro que a Corte era o menor dos problemas da plebe francesa; abaixo dela, já havia quem estivesse almejando por ocupar aquele lugar.
No fim das contas, o povo é sempre a massa de manobra para atender aos interesses de uns e de outros, que jamais atenderão aos seus, por mais elementares e fundamentais que possam ser. Nas repetições cíclicas da história essa prática é uma constante e caberia, então, aos desventurados prestar mais atenção. A própria Revolução Francesa foi vítima dessa imprevidência.
Entretanto, a sua importância histórica é justamente promover essa reflexão. É fazer compreender a insatisfação para dimensionar os limites da aceitação; sobretudo, em termos da dignidade e da cidadania. O evento da Tomada da Bastilha, por exemplo, desconstruiu a naturalização da invisibilidade social e revolveu o senso identitário do povo. A passividade cedeu lugar ao questionamento e, consequentemente, à consciência traduzida em indignação. Não há liberdade, igualdade e fraternidade sem que haja a possibilidade da mobilidade social.
Por mais que uns e outros pensem que a grande massa da população seja peça de reposição para as engrenagens do desenvolvimento e do progresso, ou seja, da acumulação de bens e riquezas do topo piramidal, a insatisfação é sempre um entrave produtivo. Pessoas invisibilizadas, negligenciadas, espoliadas não oferecem a plenitude da sua capacidade e competência. É do ser humano esperar mais da vida, do mundo, das pessoas. E ninguém deixa de ser um ser humano só porque está categorizado nesse ou naquele estrato social.
Por sorte não precisamos mais da barbárie e das guilhotinas para revolucionar as relações humanas. Em 230 anos de história podemos trabalhar sobre a construção dialógica que respeita e compreende o valor humano, muito além do poder e da riqueza. Tudo depende, então, do indivíduo. Da sua vontade, do seu querer, da sua capacidade em tecer a vida pela liberdade, a igualdade e a fraternidade. Para que não haja mais nem menos, pior nem melhor, subordinados nem mandatários... Mas, haja um todo indivisível que trabalha em prol do bem comum, da qualidade e da segurança coletiva.  

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