Educação - Cultura - Cidadania.
O
assunto é: EDUCAÇÃO.
Por
Alessandra Leles Rocha
Desde a quebra da
Bolsa de Nova Iorque, em 1929, quando as economias mundiais se esfacelaram
diante da crise econômica, a humanidade já deveria ter aprendido que viver na
zona de conforto é algo bastante relativo. Aliás, viver é comprar uma passagem
sem destino, sem seguro de vida, sem garantias de nada. Não somos apenas
estamos e só.
E era necessária
essa introdução reflexiva, para iniciar nossa conversa sobre o que é realmente
importante nesse momento, porque muitos dos que se acham blindados a quaisquer intempéries
da vida refutam se colocar em outra posição de análise.
O assunto é
Educação. Sim, mais uma vez é fundamental pensar a respeito; sobretudo, se distanciando
de quaisquer influências nocivas e polarizadas ideologicamente. Precisamos pensar
sobre Educação, sobre o que esse processo repercute positivamente no
desenvolvimento do ser humano e nos seus desdobramentos sociais. Afinal, nenhum
de nós é uma ilha e é nessa inter-relação que produzimos melhorias e soluções
capazes de beneficiar a todos.
Admitindo ou não a
realidade educacional brasileira, o fato é que ela há muito reflete as discrepâncias
presentes na sociedade. Construímos um espectro de Educação que vai da carência
mais absoluta ao que há de mais contemporâneo e tecnológico, de modo que, inevitavelmente,
silenciamos diante de um modelo legalizado e legitimado que separa os indivíduos
de acordo com as suas oportunidades econômicas.
É importante
ressaltar que, não se trata de uma simples divisão entre educação pública e
educação privada. Dentro desses dois nichos, também, se estabelecem
subdivisões, gradações que vão apontando a fragilização e o comprometimento do
ensino no país. No entanto, apesar do conhecimento público e das autoridades sobre tamanha discrepância, poucas são as iniciativas que buscam contestar e
transformar essa realidade.
Infelizmente,
parece existir uma aceitação diante dos fatos. No momento em que toda a
sociedade deveria se mobilizar em favor da qualidade e do desenvolvimento da Educação,
como forma de garantir um lastro de riqueza subjetiva e imaterial para o país,
ela se fragmenta na realidade de cada segmento social, onde a capacidade econômica
justifica a possibilidade de oferta de um ensino melhor ou pior. Isso significa
que a Educação, ao longo do tempo, se trivializou na ausência de perspectiva de
transformação, especialmente para algo melhor.
Se cada cidadão,
sem distinção, é tributado do nascer ao por do sol, não há nada de normal, ou
de natural, na desigualdade que se afirma aos seus direitos fundamentais
básicos, incluindo à Educação. Agora, diante da realidade atual, na qual o
desemprego no país atingiu 13,1 milhões de pessoas até fevereiro desse ano,
quanto esse impacto afetou a mobilidade educacional dentro do espectro citado
acima?
Sim, porque o que
toda família espera para seus filhos é uma educação boa, com a qualidade
manifesta em todos os documentos oficiais do país; mas, diante da crise econômica
os direitos fundamentais básicos passam a ser administrados segundo as
possibilidades, ou seja, da escola privada para a pública, dos planos de saúde
para o atendimento pelo SUS, do transporte particular para o coletivo etc. Afinal,
mais do que nunca as garantias estão apenas ao nível do ideário. A qualquer
momento o jogo pode virar e você vir se somar à rede de milhões de
desempregados, assistindo a sua etérea estabilidade desaparecer e as suas possibilidades
de sobrevivência alcançarem patamares aquém das suas expectativas.
O pior é que essa
heterogeneização educacional, com níveis de aproveitamento extremos, em médio e
longo prazo é que consolidam na dispersão de cidadãos despreparados na sua
cidadania e na sua capacidade laboral. Engana-se quem pensa que analfabetismo
funcional, por exemplo, é reflexo apenas de uma educação ruim de escolas
públicas ruins. O X da questão está na aceitação do desequilíbrio, das
diferenças ao longo de toda a cadeia de ensino-aprendizagem; de modo que, o
funil despeja cada vez menos pessoas verdadeiramente qualificadas.
Inclusive, se
prestarmos atenção às projeções de envelhecimento populacional no mundo,
precisamos que as novas e futuras gerações tenham de fato condições de
contribuir para a manutenção e o desenvolvimento das sociedades. É aí que entra
uma preocupação e um interesse coletivo pela Educação nacional, no qual todos
estejam preocupados em debater, em propor soluções e caminhos, em estruturar
ações estratégicas de curto, médio e longo prazo para alavancar o país.
No momento estamos pensando na
urgência Previdenciária; mas, esta deveria incluir a urgência Educacional. Se não
repensarmos a Educação permaneceremos distantes de mão-de-obra qualificada e
apta, capaz de contribuir com seu o trabalho para o Sistema Previdenciário; e
daí, todos os esforços terão sido em vão. Uma educação que faça frente às
demandas socioeconômicas é o que o país necessita com urgência. Ainda que o
orçamento nacional esteja abaixo do esperado, não justifica a
inconstitucionalidade de não cumprir o art. 212, da Constituição Federal (1988), o qual em momento algum faz ressalva ou abre precedente para eventuais contingenciamentos, restrições ou quiçá, cortes.
A Educação não pode
ser um ponto de discórdia, qualificado em justificativas inconsistentes, ou em
achismos ou em teorias conspiratórias. Já passou da hora da sociedade civil,
entidades públicas e privadas, todos cumprirem de imediato o que reza o art.
205, da Constituição Federal (1988), ou seja, trabalhar para “o pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.