Aos que ainda não entenderam ou se recusam entender ...
Aos que
ainda não entenderam ou se recusam entender ...
Por Alessandra
Leles Rocha
Sei que há muita gente, por aí,
que ainda não compreendeu as razões de o Brasil reafirmar a importância da
soberania, da democracia, do Estado de Direito, da independência. Bem, ocorre
que ele, enquanto uma ex-colônia de exploração, durante o período entre 1530 e
1822, construiu uma autoridade e um embasamento para falar sobre esses
assuntos, porque experenciou direta e profundamente as consequências da sua invisibilização
identitária. 
As consequências sociais da
colonização de exploração incluíram a desigualdade social e racial, a perda de
identidade cultural, a imposição de costumes estrangeiros, a violência física, o
extermínio de populações nativas por doenças e conflitos, a destruição de
economias e culturas locais, e a formação de uma sociedade com estruturas de
poder desiguais.
E mesmo após a Proclamação da
República, em 1889, o Brasil permaneceu padecendo de um estereótipo de
subalternização, diante do mundo, relegado a uma marginalização e a um silenciamento,
resultando na sua exclusão e na negação da sua voz e protagonismo, dentro e
fora de suas fronteiras. 
Afinal, as antigas metrópoles
coloniais transformaram-se, em grande parte, nas potências mundiais atuais,
utilizando a riqueza gerada pela exploração colonial para desenvolver as suas
economias e infraestruturas, e, após a descolonização, mantiveram relações de
influência econômica e política com as antigas colônias.  
No entanto, já era de se esperar
que, dadas as voltas e rodopios da história, em algum momento, esse cenário
sofreria uma transformação. A força das conjunturas é sempre implacável! De
modo que à revelia do Imperialismo, que deu continuidade à política de expansão
territorial, econômica e cultural das ex-Metrópoles sobre as ex-Colônias,
buscando ampliar seu poder e influência sobre povos e territórios, houve uma
apropriação e uma valorização das experiências sociais, legitimando uma consciência
sobre os altos e baixos da sua própria historicidade. 
Ainda que a duras penas,
expoentes da identidade nacional passaram a exercer um importante papel na valorização
e no orgulho da cultura e da capacidade nacional.  O que incluiu, também, indivíduos do campo
político-partidário progressista. Ora, sem essa base ideológica empenhada em
acelerar as transformações que pudessem corrigir as injustiças históricas nacionais,
adaptando o país às novas realidades, nada disso seria possível. 
Pois, se dependesse da ala
conservadora nacional, representada por membros, simpatizantes e apoiadores do
espectro político de Direita, tudo teria permanecido dentro de um protocolo padrão
de preservação das instituições, da religião cristã, dos direitos de
propriedade, e da hierarquia social, a fim de garantir a estabilidade e a
continuidade do status quo inicial.  
Por sorte, o Brasil tem feito
prosperar esse novo viés ideológico, o qual consegue reconhecer e promover as suas
habilidades, os seus recursos e as suas potencialidades, seja no âmbito
econômico, social, cultural ou tecnológico. O que significa um salto gigantesco
para o fortalecimento da autonomia e do desenvolvimento, tanto nacional quanto internacionalmente,
o que garante um espaço, cada vez maior e significativo, para a discussão e o
fortalecimento do conceito de soberania e de identidade coletiva.
É possível, então, afirmar que a sociedade
global contemporânea tem tido a oportunidade de assistir à evolução dessa
jornada brasileira, mesmo diante de sucessivas tormentas. O que oferece,
inclusive, maior credibilidade aos resultados conquistados. Razão pela qual, se
pode entender como essa apropriação de protagonismo tem conseguido alçá-lo ao patamar
de potência emergente, de ator com crescente importância no cenário
internacional, devido a sua "identidade híbrida"; pois, navega por
múltiplas identidades culturais, sociais e/ou étnicas simultaneamente, moldando
um senso de si que mescla elementos de diferentes origens, tornando-o mediador
entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. 
Em suma, o que o Brasil está
vivenciando; sobretudo, nos últimos três anos, é uma humanização social. Uma busca
cada vez mais intensa e obstinada, que envolve o desenvolvimento ético, o
respeito à dignidade humana, a valorização das relações interpessoais, a
tecitura dialógica, a defesa inabalável da identidade nacional e a construção
de um ambiente mais empático e colaborativo, seja dentro ou fora de suas
fronteiras. É assim, que o Brasil vem promovendo a sua autonomia e o seu protagonismo,
reconhecendo, diariamente, a inegociabilidade dos seus princípios mais
essenciais. 
