Respeitável público...

Respeitável público...




Por Alessandra Leles Rocha
                                                                                              



Alguns se ressentem pela ausência de tato e sensibilidade do Governo Federal, diante da Pandemia. Outros se chocam com os comportamentos deselegantes e absurdos proferidos pelo Governo Federal, ainda mais, em plena Pandemia. Cada um com seu quinhão de direito em opinar. Só não pode esquecer-se de mergulhar um pouco mais fundo e atentamente na reflexão.
O “Circo dos Horrores” em que se transformou o país, nessa Pandemia, há tempos já erguia a sua lona.  O descompasso e o desrespeito aos ritos, como tem sido visto frequentemente, constrange e humilha, mas não absolve a sociedade da sua coparticipação. Afinal, a Democracia que está aí é escrita diariamente por muitas mãos.
Na medida em que cada minuto a mais nessa emergência sanitária representa milhares de vidas a menos, fica visível que o cerne da questão está, na verdade, na falta de liderança. Uma liderança à altura de enfrentar esse desafio. Alguém capaz de equilibrar em si mesmo a sensibilidade e a razão, em doses generosas de habilidade e competência administrativa e gestora.
Mas a vida não é um filme de Hollywood. Em que o planeta é arrasado por uma guerra interplanetária, ou um tsunami, ou um terremoto, ou pelas mudanças climáticas, e o líder da nação se coloca pleno, inteiro, participativo e pronto para conduzir e tranquilizar a sua população; sobretudo, trazendo-lhes a força da esperança e da verdade que se farão necessárias no momento da reconstrução.
Para chegar a algo próximo desse idealismo romântico, o Brasil precisaria no mínimo começar a repensar o seu modo de olhar para a política. É uma pena que por aqui qualquer pessoa pense que pode ser qualquer coisa, como se o exercício de uma função não demandasse pré-requisitos e perfis comportamentais específicos. Ou que é possível fazer da política uma carreira profissional e não um exercício cidadão democraticamente representativo.
Basta, então, uma passada de olhos pela política brasileira para se verificar a existência de dinastias que se sucedem há décadas pelos espaços do Legislativo e do Executivo nacional. Carreiras longas, com aposentadorias, privilégios e regalias polpudas, que se construíram atraídas por esse pensamento torto e fiadas pela total carência de reflexão e ação popular.
De modo que esse retrato traduz por si só as razões pelas quais as engrenagens do país ainda são movidas a lenha, inclusive em plena Pandemia. Uma lentidão que causa estranheza frente ao esforço molhado de suor de cada cidadão da base da pirâmide.
Em suas mentes parece consolidado o apoio popular que os conduz mandato a mandato para fazer o mesmo de sempre, sem cobrar nada por isso. Como se o voto fosse um acordo velado entre os nobres representantes com o resto da população; o qual, não representa senão a eles próprios e aos seus interesses.
Então, agora, que a coisa apertou, o caldo entornou e a Pandemia está aí, ainda há quem espere por um comportamento diferente?! Não me faz rir! A perspectiva deles sobre os fatos não é a perspectiva do restante da população. Aliás, eles podem aguardar pelas soluções mágicas, pelo imediatismo das respostas, pelas expectativas de uma vacina milagrosa. Podem até, negar a Ciência ao mesmo tempo em que esperam dela a resolução do problema. Ou podem, simplesmente, ver “o circo pegar fogo”.  
Mas, a população não. Porque a história do “cada um por si e Deus por todos” não supre todas as necessidades. Essa situação seria terrível em qualquer lugar do planeta; mas, no Brasil... Dada a sua complexa teia de mazelas históricas cuidadosamente cultivadas ao longo de seus mais de 500 anos, cada problema que surge disputa palmo a palmo com outros milhões. O que leva a uma tendência de, no fim das contas, não resolver absolutamente nada; apenas, fazer crescer a imensa bola de desafios que rolam sobre as cabeças de quem nada pode fazer.
Lá se vão seis meses de 2020. A Pandemia segue firme o seu curso. Mundo afora pessoas morrem e o saldo dessa triste emergência sanitária já computa 400 mil vidas perdidas. Olhando pela janela real e virtual, o andar dessa carruagem fúnebre abre o cortejo do “Circo dos Horrores”, que se instala em temporada nacional. Então, quem sabe, ouvindo os acordes daquela canção, “[...] Pede a banda / Pra tocar um dobrado / Olha nós outra vez no picadeiro / Pede a banda / Pra tocar um dobrado / Vamos entrar mais uma vez [...]” 1, poderemos começar a repensar a vida.  




1 Somos Todos Iguais Nesta Noite (É o Circo De Novo) – Ivan Lins e Vitor Martins - https://www.youtube.com/watch?v=K2pTudG_yFA

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