Enquanto a vida adoece... Enquanto o mundo adoece... (Reflexões para o Dia Mundial do Meio Ambiente)
Enquanto a vida adoece... Enquanto o mundo
adoece...
(Reflexões
para o Dia Mundial do Meio Ambiente)
Por Alessandra Leles Rocha
Enquanto a Amazônia arde em
chamas, a imagem do Brasil se incinera também. Enquanto as motosserras agem
furiosas sobre os biomas brasileiros, a imagem do Brasil se verga ao chão também.
Enquanto as mineradoras exaurem o solo
nacional, a imagem do Brasil se desgasta também. Enquanto os mananciais hídricos
do país são contaminados por todo tipo de poluentes, a imagem do Brasil se
contamina também. ... Enquanto tudo isso acontece, o simbolismo verde da
bandeira brasileira se desbota, se empalidece na mais plena perda de sentido e
de razão.
Sob os holofotes da COVID-19 o
Brasil começa a admitir que o seu adoecimento socioambiental extrapola, e
muito, as estatísticas pandêmicas. O ambiente geográfico que abriga mais de 210
milhões de pessoas padece de um vírus muito mais letal: a cobiça. Nesses mais
de 500 anos de história, as riquezas naturais visíveis e invisíveis vêm sendo
dilapidadas indiscriminadamente, ao sabor dos ventos interesseiros nacionais e
estrangeiros.
Ainda que as pressões dos
organismos e entidades de manejo, preservação e desenvolvimento sustentável, no
sentido de melhorar e ampliar a estrutura das legislações a respeito, exerçam
um sistema de freios e alertas importantes, o Brasil continua a exercer o
hábito de fazer “vista grossa” para os abusos, infrações e crimes na esfera
ambiental.
Sem contar que, algumas vezes, chega
a ultrapassar os limites éticos para fomentar de maneira subliminar tais
comportamentos impróprios, em nome única e exclusivamente do capital. Até o
momento, o Brasil não conseguiu romper suas amarras ideológicas históricas, no
campo ambiental, com os modelos e padrões colonialistas. Há, de certo modo, uma
crença consolidada de que só pela extrema exploração ambiental é possível
alavancar novas bases de interesse econômico para o país. Como se o mesmo
tivesse uma riqueza aplicada e para ver esse aporte de recursos liberados
necessitasse com urgência explorar o meio ambiente na sua capacidade máxima.
Assim, a política ambiental
brasileira vem, então, trafegando na contramão da Sustentabilidade Socioambiental,
tão difundida e pregada por diversos países do mundo; bem como, pela própria Organização
das Nações Unidas (ONU). Um modelo de gestão que almeja a rentabilidade econômica;
mas, por meio do equilíbrio entre o Meio Ambiente e as demandas sociais, sem
colocar em risco ou exaustão os recursos naturais. Isso porque a
Sustentabilidade Socioambiental entende claramente que os impactos negativos causados
pelo desequilíbrio ambiental consomem muito rápido quaisquer eventuais lucros
que possam ser conquistados pelo modelo radical de exploração.
Tanto é verdade essa constatação
que na medida com a qual os equívocos de gestão são replicados ou repetidos, as
respostas econômicas tornam-se menos satisfatórias e compensadoras, ao passo
que o planeta e sua população tornam-se cada vez mais doentes. Muito além do
Efeito Estufa, do Aquecimento global, dos altos índices de poluição atmosférica,
da escassez de água e alimentos em diversas partes do planeta, a destruição da
natureza vem aproximando as populações de inimigos desconhecidos, que se
mantinham distantes e abrigados em áreas preservadas, intactas do ambiente.
Enquanto exploravam-se cada vez
mais e aceleradamente os recursos naturais renováveis e não renováveis para
atender aos interesses produtivos, os quais atendiam aos interesses do
comércio que, por sua vez, atendiam aos interesses do consumo populacional, não
se considerou que a vida humana corria risco. O seu entorno estava sendo destruído
lenta e gradualmente. A sua qualidade de vida e bem-estar estavam se
deteriorando, de modo que a sua saúde, também, seguia o curso do colapso. Doenças
que haviam sido controladas emergiam com intensidade assustadora. E os imponderáveis
desafios se agigantavam no contexto destrutivo de suas aparições. Foi assim que
a desatenção aliada aos prementes interesses econômicos colocou a raça humana
em xeque-mate.
O pior dessa trama é reconhecer
que enquanto esse processo se fiava a humanidade só acirrou os abismos, as
fronteiras, as desigualdades. Houve um Colonialismo. Houve uma Revolução
Industrial nas suas versões 1, 2, 3 e 4. Houve um Neocolonialismo. Há uma
globalização que se mantém sempre em curso. E, apesar de tudo isso, o mundo não
se tornou melhor.
O capital que foi sendo acumulado
enriqueceu apenas alguns poucos. Fomentou guerras. Destruiu vidas. Subjugou países.
... Então, você olha para o lado e vê a miséria, a fome, as doenças, a indigência
se proliferando em cada canto. A desertificação humana e ambiental se estendendo
pelo planeta, na personificação de um fastio que não encontra satisfação e nem
sentido em coisa alguma.
Aí você entende a frase “O homem fita o abismo. Nada olha de volta
para ele. Nesse momento, o homem encontra seu caráter. E isso é o que o mantém
fora do abismo” (Wall Street – Poder e Cobiça 1).
Ao invés do dinheiro trazer o tudo, ele revela que não há mais nada. A escolha
feita não foi a melhor. A vida precisa estar acima do abismo.
Enquanto a vida adoece... Enquanto
o mundo adoece... Talvez, agora, com tudo a mercê da Pandemia, o Meio Ambiente
passe a ocupar seu lugar de direito, seu lugar de fala na sociedade. Afinal, para
que as pessoas possam se curar e sobreviver o mundo precisa experimentar o
mesmo. Isso significa que a Sustentabilidade
Socioambiental, independente das vontades e quereres, se firma como centro de
discussão, de apoio e de ação para a nova ordem que emerge no planeta.
Parece, enfim, que chegou o tempo
de reconhecer e admitir que “cada dia a
natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que
fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome”
(Mahatma Gandhi).