Boa semana!!!


Courage!



Por Alessandra Leles Rocha



O multifacetado sujeito da Pós-Modernidade, que pensa ser livre para fazer o que quiser e sente-se, por isso, rodeado de insegurança constante, tem se revelado cada dia menos corajoso para sustentar a sua essência existencial.
Escondido no manto da coletividade esse é o mecanismo que tal sujeito utiliza para não precisar mostrar ao mundo quem realmente ele é. Uma pseudo segurança?! Talvez sim. Talvez não. Primeiro, porque tornar-se seguidor do “efeito manada” o faz um camundongo, cuja sombra aparenta um imenso elefante, ou seja, nada do que ele diz, pensa ou faz é autoral, é real. Apenas a expressão de uma ilusão.
Segundo, porque apagadas as luzes, a sombra desaparece e revela exatamente quem é ele, sem artifícios. O camundongo é um camundongo que sobrevive na estranha arte de ser um simples repetidor de ideias alheias. Um camundongo que abdicou de ser ele mesmo, para usufruir de alguma migalha de segurança, em razão do contingente coletivo; ou, quem sabe, simplesmente para não precisar despender muito esforço em se firmar como é.
Sem coragem para ser, o que adianta a liberdade?! No fundo, se observarmos bem, essa liberdade é, também, uma “pseudo liberdade”. Porque ela não nasce e flui do desejo interior do sujeito. É; nos dias de hoje o sujeito só é livre se estiver moldado a partir dos pensamentos, ideias, emoções, sentimentos e fazeres alheios. Se assim não for, ele é banido, desqualificado, ofendido, agredido etc.etc.etc. Assumir a própria identidade é, portanto, uma grave ameaça à “padronização”, a “massificação”, estabelecida por algo que se denomina “sistema”.
A liberdade Pós-Moderna utiliza, portanto, os piores grilhões porque eles não são materiais. Você é livre para comprar... Comprar o que a mídia considera que é o melhor para você, não exatamente o que você quer. Você é livre para se vestir... Desde que esteja de acordo com as tendências de moda do momento. Enfim... As “correntes” se manifestam no aprisionamento do subjetivo, do ser imaterial. De modo que tudo isso se traduz em uma propaganda bizarra de que você é tão livre que não precisa perder tempo em pensar, em dizer, em fazer; apenas, desfrutar curtir replicar o que está por aí. E são tantas opções... Então, de repente, escolhe-se uma para ter no que se apegar e obter um pouco de “segurança”.
Tudo isso é tão sério que as repercussões sociais começam a fazer estragos. Pessoas estão deixando de se vacinar ou se medicar para doenças letais, por conta de notícias falsas disseminadas pela Internet; de modo que, epidemias começam a se disseminar pelo mundo. A divergência de opiniões têm trazido o acirramento e a polarização a limites insuportáveis na sociedade, construindo ondas de violência verbal e não verbal. ...o que significa que a liberdade nunca foi tão controladora e tão manipuladora como estamos vendo, enquanto assiste a coragem sucumbir gradual e lentamente.
Há sim, um sentimento de inferioridade, pairando no ar. Há medo em tomar pelas mãos às rédeas da própria existência, em empoderar a autoestima, em assumir posições, em pensar com a própria cabeça, em viver pelas batidas do próprio coração. Porque para tudo isso é preciso coragem.
Em seu discurso de posse, em 1994, o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela disse: “Nosso medo mais profundo não é que sejamos inadequados. Nosso medo mais profundo é que sejamos poderosos demais. É nossa sabedoria, nossa luz, não nossa ignorância, nossa sombra o que mais nos apavora. Perguntamo-nos: ‘Quem sou eu para ser brilhante, belo, talentoso, fabuloso? ’ Na verdade, por que você não seria? Você é um filho de Deus. Seu medo não serve ao mundo. Não há nada de iluminado em se diminuir para que outras pessoas não se sintam inseguras perto de você. Nascemos para expressar a Glória de Deus que há em nós. Ela não está em apenas alguns de nós; está em todas as pessoas. E quando deixamos que essa nossa luz brilhe, inconscientemente permitimos que outras pessoas façam o mesmo. Quando nos libertamos de nosso medo, nossa presença automaticamente liberta as outras pessoas”.
E antes dele, já dizia o dramaturgo, escritor e poeta irlandês Oscar Wilde, “Seja você mesmo, porque todos os outros já existem”.  Então a conclusão que se chega diante dessas manifestações é: Viva a coragem de ser. Haverá riscos? Sim. Haverá dores? Sim. Haverá desajustes? Sim.
Mas, no fim das contas, você irá descobrir que vale a pena porque ela é a liberdade em si; e, muitas vezes, pelo seu exercício contínuo é que se torna possível construir a segurança, um porto seguro que todo ser humano almeja encontrar. Courage! E se precisar de mais inspiração, a dica é ler “Fernão Capelo Gaivota”, um romance do escritor norte-americano, Richard Bach.

Comentários

  1. Um texto refletivo e irretocável; aliás, mais uma vez! O fechamento do seu texto é um convite a ler o romance "Fernão Capelo Gaivota", do escritor Richard Bach. Nele, a determinação e a coragem de ir além dos próprios limites são os ingredientes indispensáveis para o sentido da vida. Parabéns!!!

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