7,7 bilhões de seres humanos, ok?!


7,7 bilhões de seres humanos, ok?!




Por Alessandra Leles Rocha




Tudo bem que a vida adore dicotomias, BOM e MAU, CERTO e ERRADO, ALTOS e BAIXOS,... mas, vamos concordar que essa ideia de polarizar o mundo e exercer um fanatismo descompensado em torno disso, já passou dos limites. Enquanto o ser humano age como um maluco em pleno surto, do lado de fora desse seu mundinho limitado milhões de coisas acontecem e demandam foco para serem mitigadas.
Bom, venho refletindo a respeito e observando a necessidade de encontrarmos uma terceira via para os nossos caminhos sobre a Terra. Afinal de contas, tudo e todos têm se transformado em sementes de discórdia, de intolerância, de violência, enquanto a vida carece de comportamentos muito mais evoluídos. A verdade é que estamos esquecendo o essencial, da base, que é o ser humano.
Relutante em dispensar um minuto sequer por dia para olhar-se no espelho e ver como anda a própria aparência, sinto que as pessoas estão cada vez mais desconectadas de si e isso se reflete no acirramento das ações, dos comportamentos, dos discursos. Aqui e ali a invisibilização humana se constitui de modos variados e bastante perceptíveis entre nós; de modo que, as ranhuras dessa coexistência vão se tornando profundas e muitas vezes, difíceis de cicatrizar.
Desde que mundo é mundo as sociedades têm se constituído por estratificações sociais e tratado seus membros de acordo com tais especificidades. Tudo dentro de um pragmatismo assustador pautado consideravelmente nos vieses econômicos e distante, anos luz, de uma atenção especial aos sujeitos constituintes da pirâmide. De modo que a força do hábito cronificou o olhar social sobre esse processo.
Não se trata de uma justificativa, apenas uma constatação dos fatos. Afinal de contas, mudar esse olhar demandaria muito de todas as sociedades que já existiram e das que estarão por vir. Tarefa complexa. Desafiadora. Porém, passível de transformação.
A verdade é que em pleno século XXI, diante de todos os percalços, de todas as mazelas presentes até aqui, a humanidade ainda chega impregnada de um olhar que ora torna invisível, ora desqualifica, ora não reconhece, enfim... Faz com que a condição de igualdade entre os seres humanos não seja factual, além do papel.
Isso se faz presente, sobretudo, quando se observa os direitos sendo transformados em privilégios na ordem dos discursos, sem que isso cause qualquer estranhamento ou desconforto entre as pessoas. Quem não se recorda, por exemplo, do filme “Que horas ela volta?”, da diretora Anna Muylaert 1? Ou “Histórias cruzadas” (The Help), do diretor Tate Taylor e “Um sonho possível” (The blind side), do diretor John Lee Hancock 2? O processo de trivialização dessa realidade aparece consolidado.
No entanto, não são as nomenclaturas, classificações e afins que determinam as perversidades cometidas pelos seres humanos contra os seus próprios pares. Não. Quando os índices apontam as desigualdades sociais, no fundo apontam esse olhar desigual que uns oferecem aos outros. Negros, brancos, indígenas, homens, mulheres, crianças, idosos, homossexuais,... o que são todos eles senão pessoas?!
Isso significa que a sociedade está se esquecendo de si mesma, da sua identidade fundamental. Só que ao se esquecer de si mesma, se esquece da empatia, da comunhão, da fraternidade, de todos os valores que constituem o alicerce de sobrevivência da sua espécie. Esses laços esgarçados se tornam, então, uma ameaça, um risco iminente que sinalizam outros tantos em relação ao planeta. Não há imunidade para tudo. Não há imunidade para todos. Qualquer um pode ser a bola da vez.
A crença de que o dinheiro resolve tudo, compra tudo, blinda aqueles que o tem, é uma falácia. As constantes polarizações no mundo vêm criando abismos sociais cada vez mais acentuados. Mas, o que adianta se quando analisados categoricamente o percentual de seres humanos não é igual? Por isso, os problemas por elas criados encontram-se dispersos entre todos na multidão.
Não é à toa que o prêmio Nobel de Economia, desse ano, foi dividido entre três pesquisadores – Abhijit Banerjee (Índia), Esther Duflo (França) e Michael Kremer (EUA) – cujos trabalhos se dedicaram à redução da pobreza a partir do entendimento de que ela é um problema multidimensional, não apenas a escassez de recursos 3.
Ao contrário dos históricos mecanismos de compensação e benesses estabelecidos para mitigar as desigualdades, a verdade é que a solução real está na disponibilização igualitária e efetiva de oportunidades. O que cada beneficiado fará é escolha pessoal; mas, saber que vive em uma sociedade que percebe o ser humano como ele é, sem distinções, sem senões, é um grande impulso para o desenvolvimento de qualquer pessoa, de qualquer nação.
E não é esse o capital humano, o que move o progresso do mundo? Esse processo de oportunização igualitária propicia se descobrir e/ou acentuar as aptidões sociais de cada micro e macro região, dando vazão a um melhor aproveitamento do potencial populacional e, por consequência, a uma autovalorização da própria identidade.
Portanto, sem essa de que há apenas um lado certo para fazer história. Cada vez mais o surgimento de uma terceira via se afirma entre nós. Governos mundo afora já sinalizam a necessidade de coalizões para governar. Empresas se unem para se fortalecer no mercado. Enfim...
O tempo de alguns de um lado e outros de outro já passou. O agora conclama que são todos os seres humanos juntos, em prol de um objetivo único. Cada um oferecendo o melhor da sua capacidade, da sua habilidade, do seu talento. Torcer o nariz para esse ou para aquele, para isso ou para aquilo, nessas alturas do campeonato é, no mínimo, atraso e descompromisso com o futuro. Chega de se sentir e acreditar que é a última bolacha do pacote. Ninguém é.

Comentários

Os textos mais lidos