A semiótica e o Poder
A
semiótica e o Poder
Por Alessandra
Leles Rocha
Hoje é dia de refletir sobre
capital político, ou seja, uma forma de capital, um recurso, que os indivíduos
e grupos utilizam para influenciar e agir dentro do campo político. Não se
trata apenas de dinheiro, que é o capital econômico; mas, todo tipo de reconhecimento,
popularidade, prestígio social e a legitimidade, que resumem o chamado capital
simbólico.
Bom, muitos já devem saber que
hoje, o Presidente da República sancionou a lei que amplia a faixa de isenção
do Imposto de Renda Pessoa Física para quem ganha até R$ 5 mil por mês e
estabelece descontos para rendas de até R$ 7.350 mensais, em cerimônia que
contou com a presença de diversos membros do Executivo e Legislativo, exceto os
Presidentes da Câmara e do Senado federal.
Daí a importância dessa reflexão.
Desde a ideia estapafúrdia da chamada PEC da Blindagem, que não só gerou uma
gigantesca mobilização nacional em sua oposição; mas, também engrossou o coro
contra a Anistia aos que atentaram recentemente contra a Democracia, a simpatia
e o apoio da opinião pública em relação ao Congresso Nacional; sobretudo, a
Câmara dos Deputados, foi negativamente afetada.
Bem, 2026 é logo ali! Ano de
eleição. Em suma, ano de conquistar votos. E não é novidade para ninguém, que uma
parcela significativa do Congresso Nacional trabalha arduamente em oposição ao Executivo
progressista vigente.
O que significa que a lei
sancionada, hoje, se pudesse ter sido obstaculizada e enterrada no fundo de uma
gaveta, por essa gente, esse teria sido o desfecho da história.
Mas, diante do clamor popular, o
que fazer, não é mesmo?! Tiveram que engolir seco e aprovaram. Fato que lhes rendeu
um bocadinho de capital político, para não sair totalmente de mãos abanando.
A questão é que poderiam ter
lucrado um pouco mais desse capital simbólico, tão importante às pretensões
eleitoreiras! Se tivessem pensado melhor teriam ido ao evento.
Para a história tudo é registro, e
na grande foto do dia, o grande protagonista da fotografia foi o Presidente da
República, que naturalmente já desfruta de simpatia e de apoio, entre um
espectro largo e em franco crescimento, da opinião pública, segundo apontam
pesquisas.
Afinal, mesmo diante de movimentos
contrários, de traições abjetas, de conspirações baixas e vulgares, tecidos dentro
do Congresso Nacional por seus opositores, seu governo desafia as
impossibilidades e reafirma diariamente os seus propósitos em nome de um país
mais justo, solidário e democrático.
O resultado disso é, nada mais
nada menos, capital político junto ao seu eleitorado, opondo-se a realidade
daqueles que insistem em atuar na contramão das suas obrigações constitucionais.
Aliás, ultimamente, o que mais se viu e ouviu, no país, foi a expressão “Congresso
inimigo do povo”.
Aí, lembrei-me das seguintes
palavras do filósofo chinês Confúcio, "A palavra convence, mas o
exemplo arrasta". Por isso, os Presidentes das respectivas casas
legislativas nacionais, a fim de influenciar e moldar o potencial da suas
lideranças político-partidárias não deveriam ter deixado de comparecer a um
momento tão importante para o eleitorado brasileiro.
A lei sancionada afeta diretamente
as classes C D e E, ou seja, 81% da população brasileira, segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Então, essa seria uma excelente
oportunidade, enquanto lideranças expoentes do Legislativo Federal, de desconstruírem
os resultados de pesquisas recentes que sinalizaram uma maioria dos brasileiros
desaprovando o trabalho do Congresso Nacional.
Na verdade, esse seria apenas um pontapé
inicial para a transformação da percepção popular, tendo em vista de que todas
as vezes em que o Congresso tenta boicotar ou sabotar o governo vigente, o que
ele faz, e com maestria, é somente priorizar interesses próprios, incluindo
questões orçamentárias e privilégios, em detrimento das dificuldades
enfrentadas pela população.
Portanto, é hora de rever o timing
da política, caros Deputados e Senadores da República! O seu compromisso
constitucional demanda tomadas de decisões assertivas, as quais envolvem a
expressão de interesses diversos dentro de uma atuação voltada para a
construção de uma sociedade melhor e distante do autoritarismo.
Basta de politicagem! De objetivar
a satisfação de interesses pessoais ou de grupos restritos, em detrimento do
bem comum. Da trocas de favores, do clientelismo, da corrupção, das manobras e
discursos vazios, focando no benefício individual e no uso indevido do poder
público.
A politicagem prejudica o capital
político! Desbota a foto, a imagem, o discurso! Ao focar em manobras e interesses pessoais em
vez de políticas públicas que visam o bem-estar social, há uma descredibilização
da classe político-partidária.
E isso gera desconfiança e um
sentimento de que a ação política se resume a um jogo de poder vazio, distante
das necessidades reais da população, desgastando e arruinando, dessa forma,
quaisquer possibilidades de garantir capital simbólico.
Segundo Anaïs Nin, escritora
francesa, “A origem da mentira está na imagem idealizada que temos de nós
próprios e que desejamos impor aos outros”. Portanto, não se esqueçam de
que a semiótica e o poder estão intrinsecamente ligados; sobretudo, na
contemporaneidade.
Afinal de contas, enquanto a semiótica estuda o significado criado pelos signos - palavras, imagens, símbolos-, o poder se manifesta na forma como esses signos são usados para moldar percepções, influenciar comportamentos e legitimar discursos e apresentações.
