DOCÊNCIA ... (15 DE OUTUBRO - DIA DO PROFESSOR)
DOCÊNCIA
...
Por
Alessandra Leles Rocha
Dizia Darcy Ribeiro, antropólogo,
educador, escritor e político brasileiro, “A crise da educação no Brasil não
é uma crise; é um projeto”. Daí a complexidade que orbita a compreensão em
torno dos (des)caminhos que tem trilhado a Educação, no país. Assim, decidi
destacar alguns aspectos que considero relevantes para uma reflexão a respeito.
A precarização da docência. Bem,
esse não é um fenômeno que se resume ao olhar contemporâneo, pelo simples fato
de que a baixa remuneração, a ausência de planos de carreira atraentes, o
aumento de contratos temporários e instáveis, a falta de garantias trabalhistas
e a desvalorização da formação profissional, ... já figuram, há décadas, no
cenário docente nacional.
Acontece que a contemporaneidade
expôs o problema a um contexto de hiperdesvalorização social e escassez de
recursos, visivelmente agravada pelas reformas neoliberais, pelo crescimento da
Educação a Distância (EaD) e pelos modelos de gestão escolar que impõem um
controle excessivo sobre o trabalho do professor.
Portanto, a carreira docente perdeu
sua reputação social devido ao desgaste e às condições de trabalho precárias,
levando à alienação e à desmotivação dos profissionais. Sob esse aspecto é
fundamental salientar que a precarização docente e o desrespeito da sociedade
estão interligados.
A desvalorização social da
profissão se reflete no desprestígio público, que por sua vez pode se
manifestar em violência e desrespeito na sala de aula. Infelizmente, a
violência contra docentes é um problema grave e que não prejudica só os
professores, mas também o ambiente educacional e a liberdade de ensino.
Trata-se de um fenômeno crescente
que se apresenta desde agressões físicas e verbais até casos de ameaças e morte,
as quais são causadas por fatores sociais, familiares e institucionais. As
consequências para os professores incluem sérios danos físicos e emocionais,
levando ao esgotamento e problemas de saúde mental; bem como, a desistência da própria
carreira docente.
Homeschooling. Hasteada
como uma bandeira de viés político-ideológico, a ideia de uma educação
domiciliar emergiu como uma prática a desafiar a ideia de que a escola é o
único espaço legítimo para a educação, levantando questões sobre o papel do
Estado na educação, a autonomia familiar, a socialização, e a formação para a
cidadania.
Do ponto de vista docente, muitos
especialistas apontam que a prática pode minar a importância do papel do
professor na sociedade e o valor da profissão, reforçando a ideia de que o
magistério é apenas uma "vocação" ou "dom", e não uma
profissão que exige formação e qualificação.
Além disso, o homeschooling
reforça o desmonte da educação pública, priorizando uma educação para poucos e desviando
a atenção de problemas sociais graves, como a violência doméstica e a evasão
escolar, que afetam a vida de crianças e adolescentes, e que precisam de
políticas públicas mais eficazes para serem combatidos.
A tecnologização da educação. Ao contrário
do que muitos possam pensar, o novo cenário educacional é na maioria das vezes orientado
pelas necessidades do mercado e pela pressão por "eficiência", ao
invés de considerar as reais necessidades pedagógicas do educador e do próprio
processo de aprendizagem.
No entanto, a velocidade das
mudanças tecnológicas exige que os professores se atualizem constantemente. E diante
da pressão para se adaptar às novas ferramentas, da instabilidade profissional
já presente e do aumento da carga de trabalho, o docente não se depara com uma
contrapartida que se traduza em melhores condições ou salários, afetando a sua autonomia
e a sua qualidade de vida.
Além disso, a desigualdade de
acesso à tecnologia e à infraestrutura inadequada pode agravar a precarização,
pois nem todos os professores ou escolas dispõem dos mesmos recursos para
implementar uma tecnologia de forma eficaz. Especialmente, tendo em vista a
questão da Inteligência Artificial (IA) que apesar de representar uma
ferramenta poderosa para aprimorar o processo educacional, levanta desafios
como a necessidade de integração ética, proteção de dados e garantia de acesso,
e a importância de não substituir a interação humana.
Por essas e por outras é que não se
pode banalizar o fenômeno da desistência docente, como se fosse um mero abandono,
ou renúncia, ou interrupção de algo que estava em andamento. Não. A desistência
docente trata de inúmeros fatores que levam ao sentimento de frustração, de desânimo
e de exaustão, resultando em um número crescente de professores que consideram
abandonar a profissão ou sair dela definitivamente.
Um desses fatores é justamente a falta
de reconhecimento social da docência pelas autoridades. Afinal de contas, a
exposição do professor, pelo Estado brasileiro, à falta de valorização
econômica e social, às condições de trabalho precárias e à falta de políticas
públicas eficazes, sinaliza para a sociedade, como um todo, que o papel do
professor é menos importante do que outras profissões, ainda que a função
docente seja fundamental para a construção da própria sociedade.
Portanto, a precarização da
docência reflete e contribui para a precarização da mão de obra do país. Simplesmente,
porque a desvalorização dos professores e das condições de trabalho na educação
têm consequências diretas na formação de mão de obra qualificada e comprometida,
impactando os diversos níveis do desenvolvimento do país e da qualidade de vida
de seus cidadãos.
Segundo Rubem Alves, teólogo,
pedagogo, poeta e filósofo brasileiro, “Pessoas que sabem as soluções já
dadas são mendigos permanentes. Pessoas que aprendem a inventar soluções novas
são aquelas que abrem portas até então fechadas e descobrem novas trilhas. A
questão não é saber uma solução já dada, mas ser capaz de aprender maneiras
novas de sobreviver”.
Por isso, “O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram” (Jean Piaget - psicólogo suíço); posto que, “O ideal da educação não é aprender ao máximo, maximizar os resultados, mas é antes de tudo aprender a aprender, é aprender a se desenvolver e aprender a continuar a se desenvolver depois da escola”. Mas, para isso são necessários PROFESSORES (AS)!!!