De olho na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30)

 

De olho na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30)

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Qual é o sentido da vida, sem considerar a importância do planeta que habitamos? Afinal de contas, está na relação entre os seres vivos e seu entorno, incluindo todos os elementos físicos, químicos e biológicos, o que permite e sustenta a existência da vida na Terra. O que significa que essa reflexão ultrapassa os próprios limites da Ciência, tornando pouco relevante a manifestação do negacionismo de quem quer que seja.  

Ora, o planeta Terra, casa de aproximadamente 8 bilhões de habitantes, em todos os seus aspectos geográficos e biológicos, é o que mantém vivos todos os indivíduos, persistindo e se reproduzindo frente a desafios, impactos e condições adversas. Portanto, algo que vai além da manutenção das necessidades básicas, tais como alimentação, água e abrigo, abrangendo a capacidade de resistência, adaptação, resiliência e continuidade cultural e social dos seres vivos.

Então, se ainda reside algum instinto de sobrevivência à espécie humana é preciso ativá-lo rapidamente. Dia após dia o planeta dá sinais claros de que os conflitos e divergências sobre o uso dos recursos naturais, a forma como diferentes grupos sociais percebem e afetam o meio ambiente, estão afastando a humanidade da sua preservação, sustentável e harmônica.

Simplesmente, porque cada problema ambiental é moldado por fatores sociais, culturais e políticos; por isso, a sustentabilidade ambiental se conecta à sustentabilidade social a fim de garantir que as práticas sustentáveis ​​promovam a justiça social, a inclusão e a redução das desigualdades.

Mas, apesar disso, a falta de monitoramento e avaliação crítica das ações e das práticas sociais por parte dos indivíduos está comprometendo a vida no planeta.  O aquecimento global, causado pela emissão de gases de efeito estufa, vem aumentando, por exemplo, a frequência e a intensidade de eventos como secas, inundações, ondas de calor e tempestades.

Como consequência direta desse fenômeno, a indisponibilidade de água, prejudica a produção de alimentos, causando perdas econômicas e forçando a migração de populações. Além disso, o descarte inadequado de resíduos e o desmatamento tem contribuído para a manipulação do solo, da água e do ar, intensificando os problemas ambientais e climáticos.

É, a Terra não é mais a mesma! Por quê? Porque há um flagrante imediatismo na sociedade contemporânea. Há uma cultura da gratificação instantânea e da aversão ao amanhã, impulsionada pela tecnologia e pelo capitalismo, que hipervaloriza o "agora" em detrimento do passado e do futuro, levando a uma busca por resultados rápidos, à superficialidade e à dificuldade em construir relações e projetos desafiadores. E essa prosperidade constante leva a um esvaziamento da experiência, onde a reflexão e a confiança/credulidade são pseudoprolongadas pela busca constante por novidades.

Haja vista, como o consumismo contemporâneo, enquanto manifestação da sociedade de consumo capitalista, transcende a satisfação de necessidades, para se tornar um estilo de vida baseado na aquisição excessiva de bens, produtos e serviços.

O que nos coloca diante de um ciclo de manipulação de desejos, via publicidade e mídia, que, por sua vez, gera alienação e impactos ambientais devastadores e comprometedores à própria sobrevivência humana.

Se precisamos nos perguntar qual é o sentido da vida, então, é porque chegamos a um nível dramático de desimportância em relação a ela.  Ao que tudo indica, a percepção de falta de sentido e de propósito em uma sociedade cada vez mais focada em produtividade, consumo e padrões estereotipados, consolidou o que se conhece por "vazio existencial".

Milhões de seres humanos passam a ter a nítida sensação de que tudo é substituível ou irrelevante em um mundo que valoriza prioritariamente a fama e o sucesso material, desvalorizando o ser individual em prol de padrões coletivos.

Quem já leu o poema "Eu, Etiqueta" 1, de Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1984, se depara com os modos desse viver e funcionar da sociedade contemporânea. Como os apelos materialistas são hipervalorizados, influenciando os aspetos mais triviais do dia a dia. Assim, em nome de futilidades e das convenções sociais, limitadas às aparências, o ser humano vai se desligando do seu jeito de ser, da sua alma.

Enquanto isso, o planeta se deteriora. A vida se deteriora. Portanto, algo (ou alguém) precisa resolver esse dilema do "ser" e do "ter", exemplificado pelo sociólogo Erich Fromm, o qual trata do conflito entre a existência focada no desenvolvimento interior, nas habilidades e nas relações (Ser) e a existência voltada para a posse de bens materiais, status e consumo (Ter).

Porque a sociedade contemporânea, influenciada por todo esse movimento essencialmente materialista, impulsionado pelo “ter", apesar da insatisfação, da insegurança e dos conflitos sociais, não consegue discernir entre uma busca por segurança baseada em posses materiais e uma vida que valorize o desenvolvimento pessoal e a qualidade das relações.

Desse modo, é chegada a hora de colocar em prática o equilíbrio sustentável. Buscar efetivamente um estado de existência onde o desenvolvimento social, o crescimento econômico e a preservação ambiental coexistam em harmonia, garantindo as necessidades atuais sem comprometer as futuras gerações.

E para que ele se consolide é essencial a disposição humana em promover uma mudança nas atitudes e na cultura da sociedade a fim de que individual e coletivamente se repense os hábitos de consumo e se produza de forma mais responsável.