INSS...
INSS...
Por Alessandra
Leles Rocha
Há 35 anos, o INSS (Instituto
Nacional do Seguro Social) foi criado, a partir da fusão do Instituto de
Administração Financeira da Previdência e Assistência Social (IAPAS) e do
Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), para unificar a administração
da previdência social no Brasil.
Seja em razão das inúmeras reclamações
quanto à sua ineficiência emorosidade, ou em razão
de escândalos gravíssimos sobre desvios de recursos, é uma pena que um órgão voltado
a atender, principalmente, as parcelas mais frágeis e vulneráveis da população
brasileira, tenha se tornado objeto da cobiça e da corrupção nacional.
Inclusive, a maior fraude
ocorrida contra a Previdência Social, teve como responsável uma ex-advogada e
procuradora previdenciária. Em 1992, ela foi condenada por organização criminosa
de um esquema de desvio de verbas de aposentadorias estimado US$ 500 milhões,
segundo a Procuradoria-Geral do INSS. Algo que foi retificado pela
Advocacia-Geral da União, quando afirmou que a fraude foi de aproximadamente R$
2 bilhões 1.
Em relação à ineficiência e
morosidade, os casos são diversos e só fazem se proliferar. O próprio INSS
admite a existência de um gargalo nos atendimentos; sobretudo, em razão de
recorrentes greves do seu funcionalismo, as quais interrompem o fluxo dos
processos junto à população. Aliás, em 2019, o governo brasileiro planejou
contratar, temporariamente, cerca de 7.000 militares da reserva para auxiliar
no atendimento do INSS com o objetivo de mitigar tais pendências, de modo que
houvesse a liberação dos servidores de carreira para se concentrarem na análise
dos pedidos de benefícios 2.
Como inúmeras outras situações no
país, as fusões nem sempre correspondem a solução de problemas institucionais. O
caso do INSS, por exemplo, há um flagrante desarranjo estrutural, o qual
precisa ser enfrentado de maneira objetiva e não, utilizando-se medidas
paliativas. Trata-se de um órgão
extremamente complexo e que precisa de funcionários qualificados e muito bem
treinados para fazê-lo fluir na sua dinâmica. Caso contrário, tanto a ineficiência
e a morosidade quanto os desvios de recursos persistirão ocorrendo.
O recente escândalo revelado por
investigações da Polícia Federal (PF) é prova cabal a respeito 3. Segundo o relatório divulgado, o
novo esquema de fraudes apontou que associações ofereciam serviços aos
aposentados; no entanto, estavam cadastrando pessoas sem autorização, com
assinaturas falsas, para descontar mensalidades dos benefícios pagos pelo INSS.
A situação é tão grave que, em muitos casos, os beneficiados sequer sabiam que
seus dados estavam sendo utilizados. Informações preliminares dão conta de que
o prejuízo pode chegar a R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024.
Mais uma vez, não há como negar a
influência nefasta do ranço histórico colonial sobre o Brasil contemporâneo. Por
conta de modelos e padrões burocráticos, os quais obstaculizam os processos de
controle e de fiscalização necessários, que os atalhos para a corrupção se
abrem. É nessa rota de enfrentamento que o governo precisa ser mais firme e
objetivo, a fim de evitar que dissabores gravíssimos se arrastem por décadas, sob
o silêncio de certos membros do funcionalismo dispostos a assegurar a
perpetuação de tais práxis abjetas.
Aliás, é importantíssimo ressaltar,
como os traços da fragilidade identitária cidadã são marcas constantes na
historicidade dos episódios da corrupção nacional. Esse constante uso indevido
do poder, com o objetivo de obter vantagens pessoais, denominado como
corrupção, parece incorporado ao inconsciente coletivo. A tal ponto que certos
indivíduos se abstêm, por completo, do exercício natural da compreensão de seus
direitos e deveres como elemento fundamental na construção de um país mais
justo e igualitário, da defesa dos direitos humanos e da responsabilidade
social.
2 https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2020-01/governo-contratara-7-mil-militares-para-reforcar-atendimento-no-inss
https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/01/28/fila-inss-entrevista-adriane-bramante.htm