O dono da bola
O dono da
bola
Por Alessandra
Leles Rocha
Sabe a história do dono da bola,
aquele menino que insatisfeito com o jogo, contrário aos seus interesses, pega
a bola e vai para casa, acabando com a brincadeira? Esse é o Brasil que, em
pleno século XXI, permanece monopolizado pelos interesses, regalias,
privilégios e poderes de suas elites dominantes.
Só mesmo uma dose gigantesca de
ingenuidade para acreditar que o pior para o progressismo, no país, seria a
disputa eleitoral em 2022. Ganhando ou perdendo, o simples fato de a Direita e
seus matizes; sobretudo, os mais radicais e extremistas, terem reconquistado o
seu espaço social, já sinalizava o que viria pela frente.
Como sempre digo, é o ranço
colonial brasileiro! Nossos valores monárquicos. Nossos modelos burgueses.
Nosso vira-latismo degradante. Nos mostram como a nossa construção identitária
de país, não passa de uma caricatura horrenda, uma terrível contradição
existencial.
Não é à toa que aceitamos
passivamente que parlamentares da Direita e seus matizes; sobretudo, os mais
radicais e extremistas, em pleno período de exercício de seus mandatos, viagem
ao exterior para difamar e constranger o país.
Que nos curvamos às pautas delirantes
e vexatórias que circulam pelo Congresso Nacional, reafirmando o nosso atraso
no mundo do século XXI.
Que assistimos aos interesses dos
dominadores do capital se sobreporem às lutas seculares contra as desigualdades
socioeconômicas do país. ...
Estamos sempre dando um passo à
frente e dez atrás na nossa história, porque há uma tendência rançosa à
naturalização, à banalização, à trivialização, dos interesses, regalias,
privilégios e poderes das elites dominantes, em detrimento da grande massa populacional
brasileira. Como se isso fosse ponto pacífico.
Só que não.
Esse é só mais um tipo de anistia
que se tenta empurrar goela abaixo da gente trabalhadora e espoliada
diariamente nos seus direitos e na sua dignidade, ou seja, uma anistia às
desigualdades, como se elas jamais tivessem existido.
O que torna prático e cômodo aos
interesses das elites dominantes, pois retira delas o peso da sua responsabilidade,
da sua desumanidade, da sua crueldade, ... Algo que reafirma a dimensão do
enviesamento e da distorção social brasileira.
Ora, para as parcelas que compõem
a base da pirâmide social, em tempo algum da nossa história, houve condescendência,
houve empatia, houve humanidade, houve tolerância. Muito pelo contrário. Tiveram
sempre que pagar caro por tudo, inclusive pela própria existência.
Foram sempre os mais afetados
pelos impostos, pelas ofensas, pelas injúrias, pela criminalização, pelo cárcere
injusto, enfim... Mas, ao contrário de clamarem por anistia, inexplicavelmente,
sua voz sempre manifestou por justiça. Talvez, Freud explique!
Por isso, apesar do lastimável
show de absurdos que tem constituído as atitudes e os comportamentos de membros,
apoiadores e simpatizantes da Direita e seus matizes; sobretudo, os mais
radicais e extremistas, havemos de agradecê-los.
Afinal, rasgaram as fantasias,
tiraram as máscaras, estão desnudos na sua essência, sujeitos ao escrutínio da
opinião pública. Suas incongruências, suas dissimulações, suas inverdades, ...
nada mais passa desapercebido e inquestionado.
Aliás, se tudo estivesse sob
controle, segundo sua perspectiva, o descontrole, a ira, o extremismo, não
teriam encontrado guarida. Valer-se de práxis tão antigas, como Golpe de Estado,
só mesmo, sentindo-se incapazes de lidar com os reveses da vida!
Em um piscar de olhos, perderam o
verniz da civilidade e mostraram todo o seu primitivismo, como era de se
esperar. Porque, nesse contexto, foi sempre surpresa zero. Seus bons modos, assim como, o seu
conservadorismo, não passam de fachada.
Tanto é verdade, que as criaturas
permanecem indóceis! Seus planos infalíveis já foram descobertos. Alguns membros,
apoiadores e simpatizantes já estão no xadrez. Investigações e processos se
encontram em análise para desfecho. Mas, ainda permanecem alguns “heróis da resistência”,
acreditando que o seu sonho não acabou! Despejam a sua verborragia non sense,
por onde passam, enquanto tentam resgatar o ânimo da sua claque.
De modo que deveríamos ficar atentos. Mais do que a Democracia em risco, é o país em si. Lamento, mas essas pessoas quando tomam o poder não sabem o que fazer com ele. Metem os pés pelas mãos. Em nome dos seus interesses, prejudicam a população de todas as formas. Fazem péssimo uso do dinheiro público. Desorganizam as estruturas institucionais. E sempre arrumam um bode expiatório para jogar a culpa pelos seus atos e incompetências. Isso, quando não pedem anistia!