A sabedoria do envelhecimento

 

A sabedoria do envelhecimento

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Tenho lido muita coisa interessante a respeito de sonhos, realizações, autoamor, autocuidado e saúde mental. Aí, cruzando esses conhecimentos com as minhas observações do mundo, na perspectiva do meu espaço geográfico, comecei a perceber o quanto essas questões são presentes e materializadas, com mais força, pelos idosos.

Não sei se pela opressão de uma vida, ou por um conjunto de impossibilidades socioeconômicas, fato é que, ao atingir um certo patamar etário, um contingente bastante expressivo de pessoas começa a romper seus casulos e a descobrir a vida através de um novo olhar.  

Admito que as transformações da própria sociedade trouxeram estímulos e oportunidades para esse processo. O (a) idoso (a) tem tido sim, uma outra realidade se descortinando diante dos seus olhos. Mas, minhas considerações mergulham em camadas mais profundas, as quais são determinadas por impulsos pessoais e intransferíveis.

Como se houvesse um botão, no fundo da alma, suficientemente capaz de abrir todas as portas e janelas da consciência e da inconsciência, fazendo com que o indivíduo descobrisse novas formas de ser, de pensar, de agir, de querer, de amar, ... Trazendo à tona uma inquietude, um tanto quanto mágica, que se apresenta por um brilho diferente no olhar.

De repente, o (a) idoso (a) descobre que o jogo não acabou, que há muito por desfrutar, que a vida só acaba quando termina! É certo que não da mesma forma; mas, de muitas outras que ele (a) sequer poderia imaginar. Então, há um mergulho nas profundezas de um oceano de lembranças, de recordações, de sentimentos e de emoções.

De modo que as importâncias vão sendo resgatadas e trazidas à superfície a fim de terem uma segunda chance. Como escreveu o poeta irlandês John Anster, “Qualquer coisa que você possa fazer ou sonhar, você pode começar. A ousadia tem genialidade, poder e magia”. E ao contrário do que muita gente, por aí, imagina, o passar do tempo é um verdadeiro elixir do empoderamento humano.

Quem vive mais, aprende mais, conhece mais. O envelhecer molda com mais precisão o barro da essência humana, porque entende o que realmente importa, na vida. Algo que faz com que as experiências sejam vividas de uma maneira mais plena, inteira; pois, sabe-se que não há tempo a perder. O que leva a maioria dos idosos a se abster de pseudoconstrangimentos, pseudopudores, para serem exatamente quem são.     

Pois é, o envelhecimento proporciona o surgimento de legiões de bravos aventureiros. Não, que todas as suas aventuras, sejam, de fato, assim.  Muitas são apenas pequenos prazeres. Exercitar. Desenvolver habilidades artísticas. Dançar. Viajar. Estudar. ... Entretanto, há quem se arrisque para valer! Saltos de paraquedas. Voos de balões. Escaladas. Maratonas. ... Eventos que colocam a sua adrenalina à prova!  

Não é à toa que o envelhecer contemporâneo venha se tornando, mais e mais, emoldurado pela leveza de risos e sorrisos. É claro, que não pretendo generalizar, desconsiderando todas as mazelas ainda persistentes nas desigualdades socioeconômicas, do mundo; mas, que houve um salto qualitativo importante, no campo do envelhecimento, houve sim.

Mesmo que aquém do ideal, muitos são os (as) idosos (as) atuando ativamente na defesa do seu direito de sonhar, de realizar, de se amar, de se cuidar, de proteger a sua saúde física e mental.  Às vezes, até parece que eles (as) se apropriaram das palavras do filme O Curioso Caso de Benjamin Button, de 2008, ou seja, “Para as coisas importantes, nunca é tarde demais, ou no meu caso, muito cedo, para sermos quem queremos. Não há um limite de tempo, comece quando quiser. Você pode mudar ou não. Não há regras. Podemos fazer o melhor ou o pior. Espero que você faça o melhor. [...] Espero que viva uma vida da qual se orgulhe. Se você achar que não tem, espero que tenha força para começar novamente”.

Como sabiamente manifestou Oprah Winfrey, “Vivemos em uma cultura obcecada com a juventude que está constantemente tentando nos dizer que, se não somos jovens, e não estamos brilhando, e não somos gostosos, que não importamos. Eu me recuso a deixar que um sistema ou uma cultura ou uma visão distorcida da realidade me digam que eu não sou importante. Eu sei que só sabendo quem e o que você é, você pode começar a aproveitar a plenitude da vida. Todos os anos devem nos ensinar uma lição valiosa. Se você entende a lição realmente depende só de você” (O, Oprah Magazine, 2011).  

No entanto, queiram ou não aceitar, a busca frenética e insana pela fonte da eterna juventude não tem feito as pessoas mais felizes, mais inteiras, não tem trazido motivação e inspiração a elas. Não tem lhes dado um sentido, um significado, para a sua jornada na Terra. Ao contrário, cada vez mais, os diferentes espectros da juventude estão desesperançados, perdidos, deprimidos, ansiosos. Muitos, inclusive, tirando a própria vida.

Portanto, o aprendizado trazido pelo envelhecimento me parece a grande força motriz da esperança. Uma vitalidade que transcende além dos corpos, da aparência, do estereótipo. Que vem da alma, de uma vontade de ser que não se rende a quaisquer limites, barreiras, dificuldades ou obstáculos. É uma vitalidade que busca a contínua construção da felicidade, do bem-estar, da satisfação pessoal, ao mesmo tempo em que é capaz de perdoar e superar os erros, os tropeços, os desalinhos, ao longo do caminho. Façamos, então, essa importante reflexão!