Mais um capítulo da história estadunidense

 

Mais um capítulo da história estadunidense

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Não, o mundo não acabou! A Terra continua girando na imensidão azul! É preciso recapitular o óbvio, quando milhares de pessoas estão exercitando sua futurologia apocalíptica a respeito do resultado das eleições nos EUA.

Sim, porque apesar de fatos e informações fornecidas pelo próprio vencedor, entre o discurso e a prática existe um espaço de incertezas que não pode ser jamais desconsiderado. Essa lacuna misteriosa faz toda a diferença para o curso da história!

Nem mesmo a grande potência global está isenta das conjunturas e do imponderável. O poder não manda e desmanda, como acredita ser possível. Tudo esbarra em limites, os quais nem sempre são contornáveis ou intransponíveis.

A cadeia de acontecimentos, que rege a dinâmica cotidiana, carrega em si uma cota de desdobramentos inimagináveis. Afinal, a vida não é um script muito bem definido e linear. Por mais que se planeje, se organize, de repente, tudo foge ao controle e o resultado não é o esperado.   

Ora, o mundo não é só os EUA. Cada nação está travando suas próprias batalhas contemporâneas, que já se mostram bastante desafiadoras e complexas. De modo que são os resultados dessas equações enigmáticas que fazem mover as engrenagens da geopolítica global.

Por mais individualista, ou narcísico, ou egoísta, que se mostre um país, na mesa de negociações o pragmatismo da governança se impõe.  Interesses nacionais e estratégicos se priorizam frente aos interesses egóicos dos governantes.

Haja vista a recente história brasileira, no seu recorte entre 2019 e 2022. Anos difíceis, concordo! No entanto, vamos e convenhamos, nada foi exatamente como haviam planejado.  Os planos infalíveis falharam!

Toda a ardilosa tecitura da ultradireita nacional, respaldada pelo forte apelo da legalidade do verniz jurídico, começou a se esfacelar diante de milhões de olhos estupefatos. Atos e figuras foram desnudos, trazendo à tona verdades bastante indigestas e inconvenientes.

E o entorpecimento gerado pelo delírio de poder, esgarçou qualquer vestígio remanescente da ética e da moral, pelos corredores da República.  Simplesmente, meteram os pés pelas mãos, de uma maneira constrangedora.

Sim, porque apesar da dimensão dos delitos cometidos, a covardia não lhes permitiu assumi-los. Tentaram ganhar tempo, conclamando uma insurreição abjeta, com o intuito de transformar o absurdo em verdade conveniente e colar os caquinhos do seu projeto de (des) governança, para permanecer no poder.

Mas, no fim das contas, as linhas tortas da história os levaram a ficar próximos de acertar a fatura, de seus gestos e atitudes reprováveis, com a Justiça brasileira.  Não adiantou o teatro autoritário, a verborragia, a bravata, o menosprezo ao país, enfim ...

Uma prova de que ganhar não representa o ponto final. A vida segue, caro (a) leitor (a)! O tempo não para de correr! De modo que as perspectivas do poder não são absolutas. Muito pelo contrário! Elas são totalmente relativas.

Portanto, não há, de fato, a mínima necessidade de se aborrecer ou se amedrontar pelo amanhã. Reside nas conjecturas uma toxicidade que é muito perigosa, porque ela nos afeta diretamente a razão, na medida em que cria uma ansiedade exacerbada sobre algo que, talvez, possa acontecer.

Veja, é preciso admitir que a vida não assinou qualquer compromisso em ser exatamente, segundo as nossas idealizações e projeções. Por mais que tenhamos bons argumentos para defendê-las, a vida não se sujeita às determinações alheias. Ela é livre, autônoma, imprevisível, incerta. Tudo pode acontecer. Tudo pode mudar.

Portanto, cabe aos viventes um dia de cada vez e a dedicação em atentar-se ao que está bem diante do nariz, ou seja, “Estamos a avançar rapidamente rumo a uma tempestade perfeita, desencadeada por um excessivo consumo de energia, excessivo crescimento populacional e escassez de alimentos e de água que não poupará ninguém, sejam ricos ou pobres” (Parag Khanna – Como governar o mundo, 2011).

É sobre isso que a raça humana deveria realmente se preocupar. Afinal, “Não podemos mudar o passado; podemos ter arrependimentos, remorsos, lembranças de momentos felizes. O futuro, pelo contrário, é incerteza, desejo, inquietude, espaço aberto, talvez destino. Podemos vivê-lo, escolhê-lo, porque ainda não existe; nele tudo é possível ... O tempo não é uma linha com duas direções iguais: é uma seta, com extremidades diferentes” (Carlo Rovelli – A ordem do tempo, 2017).