Mais do mesmo...
Mais do
mesmo...
Por
Alessandra Leles Rocha
Ah, por favor, nada das
dicotomias clichês! Vencedores. Perdedores. Não há momento melhor, do que ao
final de um pleito eleitoral, para dissecar as camadas dos acontecimentos e
apurar o grau de avanço e de transformação que conseguiu-se imprimir ou não, ao
processo.
E nesse ponto, surpresa zero! O
trânsito do tempo, no Brasil, infelizmente, não é capaz de romper com seus
ranços coloniais. Tudo parece permanecer sob a mesma lógica, com as descendências
da metrópole ditando os rumos do país. Como se tal protagonismo lhes coubesse
como herança.
Não só do ponto de vista do ideário
propositivo; mas, de práxis que se acreditava estarem extintas do cenário
nacional. O Brasil, em 2024, reencenou com tintas fortes o Brasil da Velha
República (1889 a 1930). Muito voto comprado. Muita violência política. Muito
conservadorismo de fachada. ... Enfim.
Apesar de uma estrutura
judiciária dedicada a cuidar dos trâmites e do cumprimento à legislação
eleitoral vigente, nunca se viu tanto desrespeito, tanta afronta, tanto crime
configurado, sem que as medidas cabíveis e esperáveis fossem tomadas efetiva e
rapidamente.
E se o silêncio do judiciário
ecoa, quando não deveria, precedentes perigosos são abertos para a manutenção
da Democracia. Deveríamos nos lembrar do que dizia José Saramago: “A única
maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas não
serve de nada”.
Bem, mas não foram somente as
instituições que silenciaram. Houve um outro tipo de silêncio que repercutiu do
próprio eleitor. Ele foi tão ruidoso que deixou atônitos os candidatos, os
staffs partidários, os jornalistas, os analistas, os pesquisadores. Todos
tentando compreender o que quer o eleitor?
Não sei se ele próprio saberia
responder. Mas, considerando que muitas faces do comportamento do eleitor brasileiro
não difere de outros, mundo afora, penso que o ponto de partida seja olhar com
atenção para a contemporaneidade.
Afinal, foi ela quem fez emergir
e exacerbar o individualismo, o egoísmo e o narcisismo, como pilares de sustentação
da chamada sociedade de consumo. Todos querem a satisfação dos seus desejos e
delírios, o tempo todo, como se isso fosse realmente possível. Acontece que não
é.
Então, há tempos, pode-se
observar um crescimento da incapacidade humana em lidar com os fracassos, as
negativas, as impossibilidades. De modo que o não se tornou intolerável,
enquanto a insubordinação, a rebeldia, a desordem e o conflito tornaram-se os
instrumentos de substituição da civilidade, em seus mais diversos aspectos.
Apesar da grande massa do
eleitorado não dispor da possibilidade de satisfazer suas vontades mediante o
poder capital, por motivos óbvios estampados em um leque de desigualdades históricas,
no país, seus pretensos representantes político-partidários conhecem o caminho
das pedras para nutrir seus sonhos e esperanças.
E esse é o ponto. Nem só de
promessas vive a política contemporânea! Ela precisou se unir e tecer alianças com
outros segmentos sociais capazes de manipular e persuadir seus eleitorados, a
partir de uma construção discursiva acessível e objetiva.
A política foi, então, alçada aos
mais diferentes espaços, reais e virtuais, pelos quais transitam seu
público-alvo. Um processo de verdadeira exaustão repetitiva, de informações
distorcidas, enviesadas e/ou adulteradas, realizado por quem tem vasto domínio nesse
tipo de comunicação.
Diante de um recorte temporal em
que a pressa, o imediatismo, a impaciência, vigoram como palavras de ordem, a importância
da verdade e da realidade foi sumariamente desconsiderada. Sobretudo, quando as
informações chegam a partir de indivíduos que ocupam algum tipo de autoridade
social.
Inclusive, essas pessoas são
estimuladas a defender a sua liberdade, o seu poder de escolha, quando, na
verdade, estão subjugadas a mais profunda alienação política, que visa atender
a determinado interesse político-partidário. Elas são simplesmente massa de
manobra de um projeto político, muitas vezes, alheio as suas próprias demandas.
Portanto, nada diferente do que
tem ocorrido na história brasileira, há pouco mais de 500 anos. Desde sempre, as
escolhas, as decisões, o futuro do país, é realizado nos bastidores, na
surdina, pelas oligarquias detentoras do poder. O voto, o símbolo maior da
Democracia, não passa de instrumento legitimador da manutenção oligárquica, no
país. Não há, então, a materialização da representatividade popular, no que diz
respeito aos seus anseios e necessidades.
Assim, “tudo como dantes no quartel de Abrantes”. Mais um pleito eleitoral e uma história requentada. O pior é saber que há desejosos por alianças, por frentes-amplas, que no fundo só fazem garantir a manutenção de membros das oligarquias nos governos, a fim de que suas regalias e privilégios não sejam minimamente perturbadas ou interrompidas. Haja vista, o exemplo que se tem, nesse momento, no Congresso da República.