Escolhas ...
Escolhas
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Por Alessandra
Leles Rocha
Amanhã será o 2º turno das
eleições, em diversos municípios brasileiros. Mais um momento de reafirmação
democrática, a partir da escolha representativa popular. Algo que esconde, para
uma imensa maioria, a dimensão da importância e da complexidade desse ato. Afinal
de contas, entre o ideal e a realidade, as marcas da historicidade nacional
impossibilitam a inexistência de uma profunda frustração.
Começando, pelo fato de que em
muitos lugares a representatividade político-partidária conserva elementos de
um ranço colonial que contraria flagrantemente certos valores prezados pela
democracia, como é o caso da liberdade e da autonomia no exercício do voto.
Reafirmando, então, um sentimento de subserviência e de obediência às forças de
dominância do poder local.
Depois, há de se considerar um
quadro histórico de inércia repetitiva que aponta para a incapacidade de transformação
social através do voto. De modo que, até mesmo, o cidadão menos letrado,
consegue ver a ineficácia da sua escolha representativa, quando essa não
consegue materializar, seja no legislativo ou no executivo, nenhum sinal de
melhoria para a sua condição social. Em suma, ter um representante político-partidário
não significa ser efetivamente representado nas esferas do poder.
Tanto que, em pleno século XXI, há
quem barganhe o voto, como último recurso para materializar alguma melhoria na
sua condição social. Alguns recebem dinheiro para votar em um determinado
candidato. Outros recebem benefícios, tais como cesta básica, pintura da casa, atendimento
médico-odontológico, ... Outros aguardam por alguma oportunidade no serviço
público. Como se o voto pudesse valer o tamanho da necessidade do eleitor.
Assim, a percepção em relação ao exercício
democrático do voto se distancia do que ele realmente representa na dinâmica da
vida cotidiana. O cidadão passa a não estabelecer uma associação entre as suas
escolhas representativas e as suas expectativas quanto aos ganhos ou prejuízos decorrentes
delas. Há, portanto, um sentimento descompromissado em relação ao voto, que tende
a legitimar todo o processo deteriorativo da política nacional.
Não é à toa que há quem fale em
votar no menos pior. Outros, em anular o voto. E aqueles que simplesmente
decidem por se abster em comparecer à sessão eleitoral. Tamanho o descaso que marca
o inconsciente coletivo nacional, quando se trata da escolha de um
representante político-partidário. Mas, não para por aí. Com o advento das
Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), o descaso ganhou outros
vieses.
A propagação de inverdades, a distorção
de fatos, a destruição de reputações, a violência cibernética, ... por meio das
mídias sociais, vem comprometendo a integridade do exercício democrático. Há um
desvirtuamento completo em relação ao papel da construção política para o
cotidiano da população. Muitos não entendem que más escolhas podem sim, repercutir
terrivelmente sobre suas vidas.
Desse modo, lamentavelmente, chegamos a um nível de deformação de nossa incipiente consciência cidadã, que se pode dizer, em termos políticos, que o peso de ideias pré-fabricadas tem tido mais importância do que a resolução de problemas graves e reais, os quais assolam as unidades da Federação diariamente.