O risco de frustrar as expectativas

 

O risco de frustrar as expectativas

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Entendo que o governo só tem 5 meses de gestão, o que é incipiente para grandes análises e críticas. Que o trabalho de reconstrução do país é sim, desafiador. Que o Congresso Nacional eleito faz uma oposição contundente, como já era de se esperar. Acontece que justamente por isso, projetava-se mais do governo em relação à sua postura.

Foram 12 anos desde o final do segundo ciclo de governo do Presidente Lula, o que representou uma década de profundas transformações. Nem o Brasil e nem o mundo são mais os mesmos. De modo que diante do seu retorno triunfante e retumbante, acreditava-se que ele havia se preparado muitíssimo bem para as novas conjunturas. Mas, parece que não! Pelo menos as primeiras impressões apontam para um conjunto de práxis totalmente desajustadas à realidade e, portanto, inócuas.

O grande obstáculo para representantes político-partidários alinhados à Esquerda, na contemporaneidade, é o avanço contínuo do extremismo radical da ultradireita em todo o planeta. O que acaba contaminando a Direita em todos os seus vieses e matizes, seja na força dos parlamentos e das casas legislativas, seja pelo apoio e simpatia dos seus eleitores, seja pelos mecanismos lobistas que afetam a dinâmica de muitas decisões importantes. E o Brasil está experenciando esse movimento.

Não é à toa que o governo, até aqui, parece rendido, quando pensa que pode resolver tudo pela força dialógica. Ora, as cartas foram postas na mesa. O Congresso Nacional, sobretudo a Câmara dos Deputados, não tem qualquer disposição nesse sentido. Acontece que, ao contrário de o governo se permitir ser constrangido, por meio de atitudes visivelmente afrontosas à República e à Constituição Federal, a fim de ceder à sanha fisiológica dos parlamentares e suas representações político-partidárias, ele deveria se munir da sua legitimidade eleitoral e defender a dignidade do seu governo.

Lamento, mas a ideia de alimentar o fisiologismo político, como anseia o majoritário grupo de legisladores federais, não significa absolutamente nada. A pretensa ideia de governo de coalizão minguou, de saída. Portanto, o bem-estar da população, o desenvolvimento e o progresso nacional não encontrarão respaldo, quando vierem as votações dos projetos a respeito. O que foi prometido em campanha se aproxima cada vez mais de evaporar no campo das ideias, enquanto o governo silencia aos abusos de uns e outros.

Pois é, pouco mais de uma década foi o suficiente para que a ultradireita e demais matizes direitistas trouxessem à tona o baú do retrocesso político-partidário nacional.  E mesmo o Supremo Tribunal Federal (STF) tendo julgado inconstitucional o chamado “orçamento secreto”, o agravamento das práxis fisiológicas já estava institucionalizado e a dinâmica da política nacional comprometida, por vieses nada republicanos. Como se percebe claramente, diante do flagrante desrespeito à separação dos Poderes e suas respectivas atribuições.

Diante de todo esse cenário é que me permito perguntar, como o governo eleito pelo impulso da defesa democrática, pretende proteger a Democracia? Me perdoe, mas ela continua ameaçada! Afinal, dando seguimento a todos os atos terroristas que ocorreram na capital federal, o que se assiste no campo político-partidário, diariamente, não dista muito do desrespeito às instituições e à própria cidadania da população. Haja vista o que fizeram com o Meio Ambiente e com os povos originários, que representam o alicerce desse governo desde a campanha eleitoral, em 2022.

Portanto, não será na base da retórica que o Brasil chegará ao lugar que pretende ocupar. Aliás, a visita que a Presidente da União Europeia fará ao Brasil 1 , essa semana, não se concentra só no fortalecimento de laços regionais, ou na defesa do acordo de livre comércio Mercosul-EU; mas, em uma sinalização ao governo brasileiro quanto à importância que lhe vem sendo creditada e o nível de expectativas em torno da efetividade dos compromissos assumidos pelo país no cenário internacional. E o Brasil não está em condições de perder oportunidades diplomáticas e de comércio exterior, depois de longos e tenebrosos anos de isolamento frente aos seus mais importantes parceiros.

O que significa que o momento pede o protagonismo do governo federal. Primeiro, pelo fato de a tese da separação dos Poderes ser clara, ninguém é mais ou menos do que o outro. Todos são importantes na medida das suas obrigações constitucionais, devidamente definidas. Segundo, pelo fato de que os olhos do mundo estão sobre nós e o processo de reconstrução que foi empenhado em campanha; inclusive, no que diz respeito à defesa Democrática e outros assuntos caros à realidade contemporânea, passa pelo apoio internacional. De modo que o governo brasileiro não pode falhar e nem, tampouco, se apequenar diante de pessoas ou circunstâncias que objetivem comprometer o sucesso da sua empreitada.