Chega de semear o ódio!

 

Chega de semear o ódio!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Já passou da hora de entender, o seu ódio é só seu! Se engana quem pensa que destilar um sentimento tão indigno irá mudar o mundo e ajustá-lo às suas vontades e quereres. O ódio é um problema seu com você, não com os outros. É muito importante falar sobre isso, considerando uma exacerbação desse sentimento, especialmente, em relação às minorias sociais no Brasil.  

Vira daqui, mexe dali, e os veículos de informação e comunicação trazem relatos de manifestações de racismo, de misoginia, de xenofobia, de homofobia, de gordofobia, de aporofobia, ... que não podem ficar restritas em si mesmas. É preciso discutir a respeito. É preciso refletir enquanto sociedade.

Se a ideia de quem alimenta, promove e espalha o ódio contra minorias é fazê-las se absterem da sua cidadania, do seu direito de transitarem livres pelos espaços sociais, de manifestarem suas opiniões, isso não somente fere a legislação brasileira; mas, também, aponta para o tamanho da estupidez nacional.

Somos únicos, diversos, plurais, e cada um de nós representa uma força humana indiscutível para a movimentação das engrenagens sociais, nos mais diversos campos da vida.

Portanto, basta uma análise fria e breve sobre esse ódio para entender de maneira franca e objetiva que nenhum país sobrevive pelo esforço de um único recorte social que se julga mais importante, ou mais privilegiado, ou mais poderoso, ... enfim.

Infelizmente, a estratificação socioeconômica das populações criou esse tipo de armadilha nos inconscientes coletivos, ou seja, as gradações de importância ou desimportância social. É daí que emerge essa pseudossuperioridade, esse pseudopoder, essa pseudodistinção.

Pseudo sim, porque nossa própria condição humana não nos permite, em sã consciência, cogitar algo dessa natureza. Somos todos mortais. Falíveis. Frágeis. Vulneráveis. E não há nada no mundo, no campo material, que mude essa máxima.

O que nos coloca em posições diferentes na sociedade é um conjunto infinito de possibilidades e impossibilidades, de acessibilidades e inacessibilidades, de aptidões e não aptidões, de competências e incompetências.

Mas, nem por isso, o que somos no frigir dos ovos nos faz mais ou menos que ninguém, porque é pela junção dos esforços, dos trabalhos, que o país segue adiante.

Qualquer um que falte, que se ausente, deixa uma lacuna, deixa uma perda a ser sentida e percebida em algum momento. Mas, mesmo assim, alguns querem odiar sem limites!

Se me permitem perguntar, será que esses que odeiam tanto se prontificariam a assumir os papeis sociais desempenhados por todos aqueles que foram suas vítimas? Será que eles fariam isso em nome de não permitir eventuais prejuízos ao desenvolvimento e ao progresso socioeconômico do país?

Porque para nutrir e destilar tanto ódio a fim de segregar pessoas de maneira cruel e perversa, essa gente teria que arcar, no mínimo, com essas consequências socioeconômicas; visto que, pelo altruísmo, pela empatia, pela alteridade, elas jamais se comprometeriam.

Aliás, quando o assunto caminha por essa via, eles (as) logo se escondem sob o manto velho e esfarrapado de desculpas imperdoáveis; pois, sabem que para o seu ódio não há justificativa sustentável.

Sua frustração por não viverem no mundo idealizado de suas mentes os (as) fazem se comportar dessa maneira tão bizarra, tão non sense; para não dizer, em muitos casos, criminosa.

O pior é que de grão em grão eles (as) se aglutinam e aí, “Basta que um homem odeie outro para que o ódio ganhe pouco a pouco a humanidade inteira” (Jean-Paul Sartre).

E isso é preocupante não apenas pelo fato em si; mas, porque os muros de ódio, que estão sendo habilmente erguidos, não estão permitindo à humanidade perceber os desafios e os imponderáveis que já se desenham no horizonte.

Haja vista as guerras, as epidemias, os eventos climáticos extremos, os deslocamentos populacionais forçados, as crises econômicas e o empobrecimento global, ... que sinalizam, sem quaisquer pudores, a necessidade imperiosa do estabelecimento da unidade humana, em nome da sobrevivência no planeta Terra.

O que me faz lembrar de uma propaganda da Organização Internacional Médicos sem Fronteiras que diz, “Quem pode salvar a vida de um ser humano é outro ser humano”1.

Temos que pensar que a velocidade de transformação imposta ao planeta está cada vez mais frenética. Já se foi o tempo em que as perspectivas eram cunhadas em décadas. A negligência, a irresponsabilidade, a imprevidência, consumiram esse tempo!

Agora, tudo pode acontecer a qualquer momento. Daí a total impossibilidade de permanecer com os pés fincados em lamaçais de ódio e sangue. O tempo urge e clama pela sobrevivência da espécie humana.

Chega de semear o ódio! Eu sei, você sabe, ele sabe, ... “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade” (art. 1º, Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948). Isso diz tudo.