O custo da verborragia para a violência nacional

 

O custo da verborragia para a violência nacional

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Não, não é mera força de expressão dizer que as palavras têm poder. Elas têm sim! Poder de convencer, de manipular, de distorcer, de inflamar, de enganar, de induzir. Tanto que na doutrina jurídica existe a figura do autor intelectual do crime, ou seja, aquele que planeja ou coordena a prática criminosa, tendo como base, em geral, uma ascendência imperativa e significativa sobre os demais.

E por que levantar essa reflexão? Em razão da observância em torno do recrudescimento das violências no país, sob diferentes formas e conteúdos. Não se trata de algo que se possa negar, ou invisibilizar, e muito menos, contemporizar. A violência atua sempre a partir da flexibilização que as conjunturas das relações sociais lhes permitem, ou seja, da existência de uma legitimação discursiva para tal.

De modo que os últimos quatro anos foram emblemáticos nesse sentido, oportunizando uma exacerbação da violência; sobretudo, armada, no país. A violência se institucionalizou como substitutivo prático e direto à dialogia, como se a sociedade tivesse sido tomada por um sentimento constante de “nervos à flora da pele”.

O que significa uma abstenção voluntária da compreensão sobre a total inutilidade da violência, no que diz respeito a solução e/ou mitigação dos problemas sociais. Sim, porque as divergências, os conflitos, os obstáculos, não estão materializados nas pessoas; mas, na subjetividade da dinâmica da vida no âmbito das relações. Então, ao agredir o outro, seja de que maneira for, o tal ponto nevrálgico não só não desaparece, como em um passe de mágica; mas, se desdobra e repercute sobre um raio social muito maior, que inclui o próprio agressor.

Acontece que a violência ultrapassa, e muito, os limites do atentado aos valores humanos, à paz, à ordem. Há aspectos práticos muito importantes, que dizem respeito ao equilíbrio da vida cotidiana da população como um todo. Haja vista, por exemplo, que para contratar um seguro de automóvel é considerado os riscos de furto e roubo para estimar o valor a ser pago à Seguradora. Quanto maior é a vulnerabilidade, mais caro se torna o seguro.

Então, partindo dessa ideia no campo micro do cotidiano, imagine pensar o que representa um país mergulhado em violências, para o cenário das relações diplomáticas e de comércio exterior, em que o peso das tensões é fator determinante para se fazer ou não alianças, investimentos, parcerias, negociações comerciais. O grau de incertezas compromete sim, a credibilidade, a segurança, o cumprimento dos compromissos assumidos, enfim.

Traduzindo em miúdos, é o que determina a aceleração ou não da economia, a oferta de empregos formais, a capacidade de consumo da população, a necessidade de ampliação da formação educacional e profissional, o desenvolvimento científico e tecnológico, ou seja, todas as transformações inovadoras necessárias à dinâmica socioeconômica.

Portanto, a balbúrdia que vem se desenhando no horizonte para ser deflagrada, agora, durante a reta final do período eleitoral, é o maior de todos os desserviços já prestados ao país pela direita e seus matizes. Crédulos de que seus despautérios só afetarão aqueles pelos quais não têm o menor apreço, eles estão caminhando rumo ao pior dos equívocos. A institucionalização da violência e da barbárie no país irá prejudicar a todos sem distinção, começando por eles mesmos, pelos próprios donos dos meios de produção, comerciantes, banqueiros e investidores, a elite nacional.

Aliás, ontem mesmo já se firmou o primeiro aviso concreto ao Brasil, “Senado dos EUA aprova recomendação de romper com o Brasil em caso de golpe” 1. E se eles assim o fazem, por que as outras grandes potências mundiais não farão, hein?  A reafirmação da condição de pária internacional está por um triz! O que significa que os castelos de areia da direita brasileira estão ruindo, que as expectativas de manterem intocadas as suas regalias, os seus privilégios e as suas ideologias retrógradas estão a mercê dos alucinados que eles próprios vieram influenciando e estimulando. E aí, vão continuar a insuflar o caos? A promover a bagunça? A criar a desordem e o retrocesso?

Preste bastante atenção a essas recentes manchetes: “Assassinato em bar no Ceará reacende temor de violência política a poucos dias da eleição” 2; “Deficiente visual apoiador de Lula denuncia agressão de bolsonaristas” 3; “Apoiador de Bolsonaro agride mulher com paulada na cabeça” 4; “Mulher com bolsa de Lula é espancada no DF, vítima vê violência política” 5; “Pesquisador do Datafolha é agredido por bolsonarista no interior de São Paulo” 6.

Napoleão Bonaparte dizia que “Do sublime ao ridículo, é só um passo”. Eis, então, que essas notícias dão a dimensão exata do quanto a estupidez foi refletida pela mais absoluta ignorância tupiniquim. Persona non grata. É assim que os brasileiros poderão ser denominados em breve, se continuarem se comportando como bárbaros, como gente incivilizada. E a única graça que irão conquistar é a desgraça da ruína, na medida em que o país tende a ser lançado às profundezas do seu empobrecimento geral. Adeus, grandes fortunas! Adeus, poderes! Adeus, status! Adeus, confortos e supérfluos! Adeus! Sim, porque “a violência é o último refúgio do incompetente” (Isaac Asimov).