É... a vida não é para amadores!

 

É... a vida não é para amadores!

 

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

 

É... a vida não é para amadores! Há de ser muito profissional para antever os absurdos, as incongruências, as maldades,... que teimam em transformar a lógica da realidade em um labirinto sombrio de irrealismos. Nada de lançar sobre os ombros dos algoritmos matemáticos toda a responsabilidade por essa verdade inconveniente, visto que atrás deles estão mentes humanas e elas, certamente, são as verdadeiras responsáveis pelo descaminho das desilusões contemporâneas. Mas, friamente, se abstêm dessa responsabilidade atribuindo-a o status de consequência do progresso, do desenvolvimento, da tecnologia ou, simplesmente, da evolução.

Cada dia mais me convenço de que viver não está mais em nossas mãos. Nem mesmo as questões mais pessoais dependem exclusivamente das nossas vontades, das nossas escolhas, das nossas decisões, dos fatos em si. Há uma exacerbação do relativismo tão aviltante que o pragmatismo absoluto do certo e do errado se esvaiu como fumaça. A velha ideia de que “contra fatos não há argumentos” se tornou sem sentido no mundo em que vivemos. Decorrência em parte de uma verborragia argumentativa pobre e insana, e de outra, por um desuso oportunisticamente voluntário de ler o mundo a partir das capas e não do conteúdo. Isso sem contar no apelativo efeito manada que favorece a abstenção das responsabilidades, dos posicionamentos, das convicções, do livre pensar com a própria cabeça, enquanto se poupa energia, ética e moral.

De repente, nos vemos cotidianamente arrastados por correntes tsunamicas que alteram o curso da história à revelia dos planos, dos acontecimentos. Como se o mundo não enxergasse mais da mesma forma que enxergam nossos olhos. Como se os acontecimentos factuais pudessem ser decompostos e analisados a partir da suficiência de uma superficialidade periférica. Então, embora as respostas se tornem aquém das demandas, quem as oferece não se constrange e nem tampouco se incomoda que seja assim. Como se o importante pudesse viver de postergações, de gambiarras, de arremedos, o que escancara a inexistência de um espírito coletivo e empático.

Talvez, porque a ideia de estar nos bastidores das decisões, das diretrizes, faça com que se sintam superiores demais, importantes demais, acima do Bem e do Mal, quase desfazendo por completo a sua essência humana; como se jamais pudessem estar do outro lado da vida, do outro lado da história.  Inebriados fundamentalmente pelo ópio dos pequenos poderes, o qual fomenta os ideários delirantes, retirando os pés do chão e as mentes da realidade. O que torna impossível algum senso de lucidez, algum gesto de bondade, algum limite de humanidade. Sob seu controle a vida não passa de um jogo de cartas marcadas, de resultados armados, de decisões combinadas.

E assim, a vida vai perdendo o seu brilho, o seu viço, o seu encanto. Vai ficando cansativa, extenuante, desagradável. Como se lentamente os fios que seguram as marionetes começassem a aparecer e revelar a sua presença. Teatro de fantoches. Porque bonecos são só bonecos e no mundo real em que vivemos Pinóquios não encontram redenção. Teatro de vampiros. Que nos sugam a essência para nos fazer figurar nas arenas do cotidiano, lançados as feras das arbitrariedades e casuísmos mesquinhos. Afinal, a ilusão da autonomia, da independência, da liberdade, da cidadania não passa de mero desperdício da doçura para ressaltar o amargor de um cotidiano mutável pelas sombras do irrealismo degradante.  

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