15 de Outubro - Dia do (a) Professor (a)
Ser
ou não ser... PROFESSOR?
Por
Alessandra Leles Rocha
Muitos vão dizer que não há
razões para comemorar; mas, acredito que há, pelo menos, milhões de razões para
pensar. Como quaisquer outras profissões a docência exige, cobra, sacrifica. Não
é tarefa fácil, como alguns querem afirmar; aliás, está longe disso. A missão
de um professor compreende uma complexidade tão profunda que é bobagem pensar
que alguém começa e termina seu ofício da mesma maneira.
Não, não é só ensinar. Não é só
transmitir. Não é só compartilhar. Não é só orientar. Não é só explicar. Não é
só debater. ... Ser professor é tudo isso e muito mais diante de uma plateia
altamente plural, repleta de expectativas, de frustrações, de sonhos, os quais
irão temperar essa convivência ao longo do tempo.
Por isso a aula preparada nem
sempre resultará na aula dada. Tudo vai depender da humanidade que transcende e
existe nessa relação de comunhão e fraternidade baseada em uma sala de aula. Como
se um espaço físico pudesse conservar a maravilha e o esplendor da dinâmica das
linguagens verbais e não verbais, que buscam se fazer perpetuar no cognitivo e
na alma de cada um dos presentes.
Entendo que o tempo vem
desbotando esse registro, impingindo um lento e doloroso processo de
deterioração, precarização e invisibilização docente. Construindo no
inconsciente coletivo da sociedade, um discurso desqualificador a respeito, o
qual se reafirma nas posições pessoais que os próprios docentes se permitem,
tantas vezes, manifestar. Porque, de algum modo, os insultos e as ofensas só
alcançam a sua materialidade quando os sujeitos permitem.
Dizem por aí que os bons são
maioria; mas, os maus fazem mais barulho. É nessa linha de raciocínio que os
docentes precisam parar para uma reflexão mais profunda e contundente sobre si
mesmos. A rudeza das dificuldades do ofício acrescida aos desafios burocráticos
e institucionais do país teima em retirar-lhes o foco e colocá-los armados para
a luta de seus direitos diariamente.
Mas isso não é um privilegio só
da docência. Qualquer profissão vista de perto revela suas agruras. O problema
é que há muita idealização, muita glamourização em torno dessa ou daquela área;
porém, pouco se fala a respeito dos obstáculos, dos desgastes físicos, mentais
e emocionais a serem enfrentados para se aproximar daquele padrão de vida ou
daquele salário. Seria preciso estar no olho de cada um desses furacões que
circulam ao redor para dimensionar a disposição de enfrentamento.
O ponto chave, então, está em dialogar
consigo mesmo, antes de dialogar com a sociedade; no sentido de reconhecer em
que grau de relevância a docência ocupa na vida do professor. Afinal de contas,
ninguém bate a porta de uma pessoa e a obriga a se engajar na docência. É ela
quem decide quem escolhe seguir esse caminho por alguma razão, a qual será determinante
para que ela permaneça ou não na jornada. Daí a importância dessa reflexão
íntima e pessoal.
A verdade é que nenhuma
profissão, no fundo, é para amadores. Cada vez mais o mundo é voraz na sua fome
competitiva, desleal e difícil, obrigando as pessoas a provarem a sua resiliência
e a sua convicção a todo instante. É
fundamental estar disposto a ir além de si mesmo, inovar, ousar, surpreender
com a plena consciência da disposição em se lançar na empreitada.
E a sala de aula é um universo em
franca expansão. O que significa que a carreira docente há tempos rompeu a
rotina formalizada e formalizadora para alçar voos inimaginados. De modo que a
compreensão em relação ao significado da satisfação profissional não fica
restrita ao reconhecimento institucional, governamental ou social. O docente precisa
entender que essa satisfação precisa nascer e crescer nele, no desabrochar de
cada ato do seu ofício. Há tantas maneiras de ensinar. Tantas maneiras de planejar
e conduzir uma aula. Tantas maneiras de construir o conhecimento. ...
Coisas simples se transformam no fantástico.
Música vira teatro. Planeta Terra ensinado através de modelagem em massinha
colorida. Novos poetas emergem da aula de inglês. Gêneros textuais ensinam
lições de gramática da língua materna. Sessão pipoca contextualiza a história a
partir do cinema. Hortas que fazem a Biologia mais perto da vida escolar. Enfim...
Mudam-se as formas, os conteúdos, as avaliações, há uma desconstrução para que o
conhecimento possa ser ressignificado e alcançado pela individualidade de cada
um.
Esperar do mundo uma resposta,
uma boa nova, um alento pode ser cansativo e doloroso. Pode chegar fora de
hora. Pode ser insuficiente. Pode não vir. Mas, quando o professor decide regar
a semente da docência, que dorme silenciosa dentro dele, com as águas da genuína
motivação e felicidade que correm em suas veias; aí ninguém segura à grandeza
do imprevisível na expressão máxima do seu talento.
É nesse instante que, mesmo sem se dar conta, o professor escreve a linha da sua imortalidade na vida do outro. Deixa a sua marca. Estabelece o seu legado. Conquista o registro na história. Pode ser que ele não venha jamais a ter os melhores salários, os melhores planos de carreira, as melhores infraestruturas, os melhores..., as melhores... No entanto, “Todo mundo gostaria de se mudar para um lugar mágico. Mas são poucos os que têm coragem de tentar” (Rubem Alves). Então, neste e em todos os dias da sua existência, parabéns professor (a)!!!