Crônica de Domingo...
Independência...
Soberania...
Por
Alessandra Leles Rocha
7 de setembro. Uma data
simbólica para o país. Uma data que fala de independência, de ruptura com laços
de dominação, subserviência, exploração. Uma data que trata do protagonismo da
soberania, que faz do coadjuvante protagonista da própria história. Justamente por
todas essas considerações em relação à independência é que deveríamos refletir
sobre o que acontece ao nosso redor.
Celebrar a independência
não se refere apenas ao país, no campo geográfico e histórico da questão. Significa
celebrar, enquanto cidadão, a certeza da própria independência, ou seja, livre
no exercício de sua própria soberania. Afinal, pessoas compõem o Estado-nação e
se elas não desfrutam disso, como pode ele manifestar-se soberano?
Nessa longa
história, de mais de 500 anos, antes e depois do 7 de setembro o povo
brasileiro esteve sempre à sombra de um modelo paternalista de Estado, ou seja,
de uma soberania dele. Direitos, deveres, benefícios,... tudo pensado e decidido
pelas mãos de dirigentes e governantes, limitando o exercício soberano do
cidadão as paredes do lar; embora, houve momentos, em que até nesse espaço
existiram restrições.
Se bom ou ruim tal
modelo, a resposta depende da análise de cada um; sempre, considerando a
contextualização histórica para fazê-la. Uma opinião dessa envergadura depende
da abstenção de achismos e proselitismos, de modo a se posicionar segundo o
momento em questão. Talvez, no século XVI fosse uma maravilha. Talvez, no
século XVIII não mais. Enfim... Mas, em pleno século XXI, o que paira no ar é
uma convicção sobre a qual ninguém mais estaria disposto a não exercer a sua própria
soberania.
Se o país range os
dentes em defesa da sua, inclusive, por direito legítimo e constitucional, os
filhos da pátria, também, entendem por fazer o mesmo. Nativos ou não da high tech, todos são soberanos quando o
assunto é a própria vida, seja ela real ou virtual. E assim, vão tomando suas
decisões, estabelecendo suas escolhas, construindo seus caminhos,...
Uma soberania que,
de certo modo, é fruto da própria soberania do Estado. O modo de organização sociopolítico
e econômica nacional foi passando por transformações tão significativas que
acabaram por desenvolver uma ressignificação do papel social dos cidadãos. A incapacidade
de o paternalismo estatal suprir todas as demandas populacionais fez emergir um
potencial soberano individual, com um viés de autonomia e autoralidade bastante
expressivos.
Uma vez em curso, esse
movimento trouxe um perfil novo para a sociedade brasileira. As pessoas se
reconhecem protagonistas sob diversos aspectos do cotidiano, o que lhes oferece
uma perspectiva histórica extraordinária. Há uma consciência consolidada quanto
a sua independência a partir da sua própria soberania. Elas alcançaram o seu
lugar de fala na sociedade e não estão nem um pingo dispostas a retroceder
nesse sentido.
Desse modo, se a
soberania do Estado precisa ser tratada com cuidado, equilíbrio e bom senso; o
mesmo se aplica a soberania do cidadão. Qualquer movimento desajeitado,
descuidado, no trato da soberania popular pode sim, causar enormes prejuízos à
soberania do país; na medida em que, fragiliza o seu protagonismo de liderança,
de decisão, de gestão. A expressão maior da soberania de um país não é dada
pelo discurso sobre o poder; mas, no modo como opera esse poder.
Grandes lideranças
sobressaem na sua soberania pelo modo inspirador como conclamam seus liderados
a exercerem o melhor de sua própria soberania, ou seja, lhes proporciona a
liberdade de ser, de criar, de aprender, de realizar, de se desenvolver. O que
se reflete diretamente no desenvolvimento de seus países.
Portanto, a independência
não é um grito, nem um pedaço de papel, nem uma celebração ritual. Independência
é um processo construtivo que edifica e renova potencialidades, por meio do
exercício de uma soberania libertária, igualitária, fraterna, autônoma e
autoral; por isso, ela jamais é finda.