O que significa NÓS, nos dias de hoje?
O
que significa NÓS, nos dias de hoje?
Por
Alessandra Leles Rocha
Mahatma Gandhi
dizia que “um homem não pode fazer o
certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida
é um todo indivisível”. Uma lição simples, objetiva, como deve ser.
Em tempos onde
reina o INDIVIDUALISMO, pensar coletivamente parece quase uma exceção. O fato é
que o exercício individual da vida, em todas as suas instâncias, não é tão
individual assim quando observado bem de perto. As atitudes, os comportamentos,
as escolhas,... tudo, absolutamente tudo e todos, está conectado de maneira
direta ou indireta, promovendo desdobramentos, repercussões, as mais variadas. É
a tal certeza de que “ninguém é uma ilha”.
Assim, independente
de crenças e valores dos indivíduos, a verdade pura e cristalina é que a vida
transcorre num movimento coletivo. Às vezes com acontecimentos positivos,
outras com acontecimentos negativos. E tanto na geografia do mundo quanto na
geografia da vida as medidas, as distâncias, os espaços se relativizam mediante
as circunstâncias e conjunturas a que somos expostos.
Se voltarmos na
década de 70, quando as questões socioambientais afloraram com mais intensidade
por conta da Crise do Petróleo 1 e da
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (Conferência de
Estocolmo, 1972) 2, a Hipótese
Biogeoquímica ou Hipótese Gaia 3 já propunha
a inter-relação entre a biosfera e os componentes físicos do planeta
(atmosfera, criosfera, hidrosfera e litosfera) constituindo, então, um complexo
sistema integrado capaz de manter as condições climáticas e biogeoquímicas em
equilíbrio (homeostase).
No entanto, essa
compreensão do NÓS vai muito além. Talvez, o seu sentido mais emblemático
esteja na compreensão que despoja quaisquer interesses político-econômicos para
focar única e exclusivamente na questão social. O mundo se divide em cerca de
200 países, totalizando em torno de 7,7 bilhões de habitantes e ao contrário da
lógica, nem sempre essa população permanecerá fixada no seu lugar de origem.
Por razões que
variam das intempéries climáticas as questões de natureza bélica, o mundo vive cada
vez mais o acirramento dos processos de deslocamento populacional. É a chamada
Crise dos Refugiados.
Segundo a Agência
da Organização das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), “REFUGIADOS são
pessoas que estão fora de seus países de origem por fundados temores de
perseguição, conflito, violência ou outras circunstâncias que perturbam
seriamente a ordem pública e que, como resultado, necessitam de ‘proteção
internacional’. As situações enfrentadas são frequentemente tão perigosas e intoleráveis
que estas pessoas decidem cruzar as fronteiras para buscar segurança em outros
países. [...] Essas são pessoas às quais a recusa do refúgio pode ter consequências
potencialmente fatais à sua vida” 4.
Enquanto estavam
sob a soberania de seus respectivos países, nós os enxergávamos como ELES,
pessoas distantes, diferentes e sob um regime de vida próprio. Mas, na medida
em que a realidade transformou essa geografia e os levou para outros espaços, a
expressão “NOSSA CASA” tornou-se, portanto, o lugar no mundo que os acolhe e,
não mais, o berço do seu nascimento. O ELES se transformou, então, em NÓS.
Isso demonstra que
as divisões, os limites, as fronteiras, as identidades e as identificações que
a história da humanidade foi tecendo, na verdade, não foram e nem são capazes (ou
suficientes) para mudar o óbvio: o planeta Terra é um só. A revelia da
soberania dos Estados-Nação, o mundo “é
um todo indivisível”. Todos precisam de água em condições de utilização para
sobreviver. Todos precisam de alimento. Todos precisam de espaço para habitar. Todos
precisam de ar limpo para respirar... Todos precisam de todos. Todos precisam
de tudo, que seja essencial à vida.
Cabe, então, a
todos NÓS a indignação diante de quaisquer absurdos que confrontem o bom senso,
a dignidade, o respeito, a manutenção da vida em todas as suas formas. Mesmo que
alguns não se movam nesse sentido, propriamente inspirados por um sentimento altruísta
consolidado e verdadeiro, isso não diminui a importância do gesto. O fundamental é perceber que há mais atenção
para as consequências de todos os atos e omissões no mundo.
Então, arregaçar as
mangas se posicionar se manifestar de algum modo faz com que o NÓS seja
amplamente compreendido como um compromisso, um movimento coletivo em favor da sobrevivência
humana. Afinal de contas, somos todos Homo
sapiens; independente de etnia, credo, gênero, profissão ou status social.