#DiaMundialdaPopulação


Eu, tu, ele... NÓS



Por Alessandra Leles Rocha



Hoje é Dia Mundial da População 1 e, certamente, muito poucos devem saber disso. Mas, essa é uma questão ainda fácil de resolver, problema maior está no fato das pessoas estarem tão absortas nos seus “casulos contemporâneos”, que se esquecem do seu papel dentro da população.
Para início de conversa, só relembrando, POPULAÇÃO é um conjunto de indivíduos de uma mesma espécie que habitam um determinado lugar, em determinado espaço de tempo. E isso acontece porque, do ponto de vista biológico, o agrupamento é um mecanismo importante de proteção e sobrevivência para as espécies, ou seja, a premissa da população é nos tornar mais fortes e menos susceptíveis as adversidades.
Mas, quando o assunto é o ser humano, tudo se torna bem mais complexo. Não, que os princípios citados tornam-se menos importantes; mas, por ser dotado de racionalidade, de capacidade cognitiva e reflexiva, esse ser estabelece as suas interações no mundo de maneiras muito particulares e, nem sempre, adequadas e respeitosas à sua própria sobrevivência.
Segundo Charles Darwin, “não são as espécies mais fortes que sobrevivem, nem as mais inteligentes, e sim as mais capazes de se adaptar as mudanças”. No entanto, ele falava isso diante das transformações impostas pelos fundamentos naturais da vida. O que a realidade nos impõe, em pleno século XXI, é uma adaptação muito mais extrema, que se consolida por meio de uma explosão da razão ao logo dos séculos, a qual tem aproximado os seres humanos das máquinas e os afastado de seus pares.
As ameaças biológicas e naturais que ainda ameaçam a raça humana, nos dias de hoje, não representam quantitativamente o seu declínio e ruína. A população está cada vez mais vulnerável as mazelas de ordem tecnológica. Suicídio, Depressão, Síndrome do Pânico, Burnout, e tantas outras questões envolvendo o sistema psicoemocional dos seres humanos apontam para o fracasso na busca pela qualidade da convivência e coexistência populacional; bem como, da saúde física dos seres humanos. Responder satisfatoriamente a todas as demandas sociais impostas pelo modelo vigente está exaurindo a população, em todos os sentidos.
Isso significa que, sem se dar conta ou admitir, a humanidade se debruçou a correr contra os ponteiros do relógio, a assumir uma sobrecarga de tarefas e compromissos acima da capacidade tolerável, a aceitar sem questionar um sistema de competitividade selvagem e arbitrário, a viver sob a batuta do consumo exacerbado e irrefletido...
Como consequência mais visível desse processo está o esgarçamento das relações afetivas. Segundo o professor e historiador Leandro Karnal, “nós não consertamos mais relações humanas, nós trocamos. E ao trocar sapatos, computadores e pessoas que amamos por outras pessoas, vamos substituindo a dor do desgaste pela vaidade da novidade. Ao trocar alguém, creio, imediatamente eu me torno alguém mais interessante e não percebo que aquele espelho continua sendo o drama da minha vaidade”. De repente, estamos diante da mais estarrecedora mercantilização promovida pelo progresso e desenvolvimento.
Por detrás desse fenômeno, a individualização se torna ainda mais radical. A percepção em relação ao EU está muito mais evidente do que ao NÓS. Tornamo-nos legisladores de causa própria, sem nos importamos com os desdobramentos que possam decorrer disso. E, por mais contraditório que possa parecer, há momentos em que esse mesmo indivíduo se permite seguir pelo "efeito manada”, sem utilizar o próprio bom senso e o equilíbrio da razão, para uma análise mais abalizada do assunto. Porém, abdicar do direito de pensar é um sacrilégio para um ser que recebeu da vida esse diferencial.
Enquanto isso, o mundo está envelhecendo, empobrecendo, se deteriorando, apesar de uma boa parcela da sua população “fazer cara de paisagem”. Precisamos nos conscientizar. Afinal, dentro desse panorama a existência humana será uma tarefa bastante árdua. Basta pensar que se o ser humano já está encontrado dificuldade em tecer as relações mais simples e fundamentais para sua existência, dada à excessiva individualização; o que será dele ao chegar às próximas décadas sem ter construído uma rede de proteção, de cuidados, de afeto?! Enquanto, por exemplo, os benefícios da longevidade acenam maravilhas, nos inebriamos com as falsas promessas de que esse futuro tarda a chegar; mas, não é verdade. Mais dia menos dia, o declínio é inevitável. Aliás, o desfrutar de um amanhã mais ameno depende, em quaisquer circunstâncias, de como administramos nossas expectativas e planejamentos. E de certo modo, nós ocidentais refutamos pensar sobre questões importantes da condição humana, como se fossem verdadeiros tabus.
Portanto, devemos parar de viver como se fôssemos ilhas eternas. Para mudar qualquer coisa é preciso assumir certo protagonismo, arregaçar as mangas e agir. Somos mais de sete bilhões de seres humanos que precisam aprender a reconhecer o seu papel, os seus direitos, os seus deveres e trabalhar coletivamente em favor do sucesso, dos resultados positivos. As constantes oposições de vetores estão enfraquecendo e desestabilizando as nossas forças produtivas, criativas, empreendedoras... Não temos que ser iguais, temos que tornar nossas ideias uma síntese plural bem resolvida e satisfatória. Afinal, esse é o mundo em que vivemos, não há outro; então, só resta essa opção.

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