05 de Junho - Dia mundial do Meio Ambiente (criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas na resolução 27, de 15 de dezembro de 1972)
Reflexões
para um crescimento humano sem limites
Por
Alessandra Leles Rocha
Lá se vão cinquenta anos, meio
século, desde que a humanidade passou a se preocupar efetivamente com os seus
próprios caminhos em relação à sua convivência com o Meio Ambiente. Diante do
mais lógico e óbvio, um grupo de pessoas ilustres denominado Clube de Roma se reuniu em abril de 1968
para debater os limites do crescimento humano.
A partir de modelos
matemáticos desenvolvidos pelo MIT, nos EUA, os resultados apontaram que a
Terra não suportaria o crescimento populacional, dadas as pressões geradas
sobre os recursos naturais e energéticos; bem como, os elevados níveis de poluição
gerados. De modo que, essa discussão se transformou no Relatório do Clube de Roma ou Relatório
Meadows, publicado em 1972, e que vendeu mais de 30 milhões de cópias em 30
idiomas.
Penso que foi uma
demonstração científica para uma análise de puro bom senso. Afinal, foi o
crescimento humano e sua dispersão sobre o planeta que impuseram um confronto
relacional com o Meio Ambiente, deflagrando guerra aonde só deveria haver uma coexistência
pacífica. Inicialmente por mera questão de sobrevivência; mas, com o tempo, uma
questão de empoderamento cognitivo. O desenvolvimento intelectual dos seres
humanos o conduziu à glória e, concomitantemente, à ruína lenta e gradativa.
Tanto o modo como à
humanidade pautou o seu uso e ocupação do solo, quanto as Revoluções
Industriais que se seguiram a partir da segunda metade do século XVIII são sim,
fatores que explicam consistentemente os descaminhos trilhados por nós. Em nome
de valores como o status social, o poder, o consumo, a ganância, a propriedade,...
as sociedades subverteram a própria sobrevivência. E dentro da tendência natural
do crescimento humano ao longo do tempo era certo que o impacto negativo gerado
se desdobraria em repercussões catastróficas.
Não é à toa que ano
após ano, as notícias socioambientais são cada vez mais dramáticas; apesar do Relatório Meadows e de todos os outros,
oriundos de eventos sobre Meio Ambiente e Sustentabilidade - Conferência de Estocolmo, 1972; Rio 92; Rio
+10 (em Joanesburgo); Cúpula de Desenvolvimento Sustentável, em NY (2015) -,
que o sucederam nesses últimos cinquenta anos.
A humanidade bateu
seu martelo quanto as suas prioridades e, apesar de inúmeras discussões e
debates acalorados, não se preocupa em exercitar o bom senso quando o assunto é
energia, poluição, saneamento, saúde, ambiente, tecnologia, crescimento populacional,
ou seja, aspectos que repercutem diretamente no DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. Mas, deveria! Basta ver o exemplo dos
oceanos. Bilhões de toneladas de lixo, principalmente plásticos, se arrastam
por meio das correntes marítimas e alcançam os rincões mais remotos do planeta.
Contribuições voluntárias de quem não está nem aí para o mundo.
Esta não é uma
discussão sobre o BEM ou sobre o Mal, sobre o certo ou o errado. O que importa refletir
e entender é que se alguns fazem a sua parte em relação ao Desenvolvimento
Sustentável outros não; mas, qualquer que seja a parcela de prejuízo (ou eventual
benefício) será compartilhada por todos. Segundo Mahatma Gandhi, “um homem não pode fazer o certo numa área
da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível”.
Veja, por exemplo, a
epidemia de Dengue, no Brasil. A resistência de alguns em exercitar a sua
cidadania e evitar a proliferação dos focos do mosquito não impede que este voe
distâncias maiores e faça vítimas sem distinção, prejudicando a sociedade. Tão fácil
tão simples de agir; mas, as pessoas refutam em assumir uma responsabilidade,
uma pró-atividade, a qual antes de ser com os outros é, primeiramente, com elas
mesmas. Elas são o primeiro alvo para os mosquitos, os quais não quiseram
combater.
Do mesmo modo o Desenvolvimento
Sustentável, também, não é somente para alguns e, nem tampouco, é coisa de
outro mundo. As pessoas precisam entender que ninguém está pedindo para apagar
a história e renegar os avanços científicos e tecnológicos conquistados até
aqui. O que se espera é construir uma base de desenvolvimento capaz de suprir
as necessidades de todos, sem comprometimento de exaustão dos recursos naturais
renováveis e não renováveis; mas, com planejamento estratégico, soluções
mitigadoras, responsabilidade e bom senso. E isso é possível.
No entanto, tem
havido uma resistência ao diálogo. A sociedade tem trazido a discussão
socioambiental para um ringue de confronto ideológico, um acirramento tão desnecessário
quanto totalmente, antiproducente; o que é um contrassenso descomunal, visto
que não há lados, ou segmentos, quando vivemos todos sobre uma pequena e
limitada esfera azul suspensa na imensidão do espaço sideral.
Não há porque
defender apenas alguns interesses, alguns pontos de vista, em detrimento de
outros. O assunto é, antes de tudo, de interesse coletivo e não individual ou
particularizado. Afinal, todos precisam de uma água limpa para a sua
sobrevivência. Ou de um ar sem poluentes, sem particulados, sem gases tóxicos,
para respirar. Ou de um solo capaz de produzir alimentos sem a presença de contaminantes
industriais ou industrializados. Ou de áreas de matas e florestas para conter o
avanço de arboviroses, tais como, o vírus da Malária, vírus da Dengue, da
Chikungunya, da Zika e da Febre Amarela. Enfim...
Infelizmente, o
fluxo das relações socioambientais tem caminhado aceleradamente para a
mercantilização. O problema é que transformá-las em capital, automaticamente,
faz o mesmo com a vida, inclusive a humana. Ao promover quaisquer tipos de desequilíbrio
ao desenvolvimento sustentável, a humanidade coloca em risco a si mesma.
Então,
imediatamente eu me recordo de uma citação do escritor Augusto Cury que diz, “O dinheiro pode nos dar conforto e
segurança, mas ele não compra uma vida feliz. O dinheiro compra a cama, mas não
o descanso. Compra bajuladores, mas não amigos. Compra presentes para uma
mulher, mas não o seu amor. Compra o bilhete da festa, mas não a alegria. Paga
a mensalidade da escola, mas não produz a arte de pensar. Você precisa conquistar
aquilo que o dinheiro não compra. Caso contrário, será um miserável, ainda que
seja um milionário”.
A maioria das
situações atuais de catástrofes, quando analisadas ainda que superficialmente,
já dá conta da presença da ação antrópica como responsável. Nosso maior algoz
não é o Meio Ambiente, não é o Desenvolvimento Sustentável, não são as leis ou a
falta delas. O nosso maior algoz somos nós, seres humanos de carne e osso com a
nossa genuína cupidez 1. Desqualificar
as ciências, os estudos socioambientais, os grandes e renomados pesquisadores,
nada disso muda o curso da história, nada disso impede de a vida sucumbir à
destruição.
Se prosseguirmos nessa
direção, obstinados e imprevidentes, arrogantes e enceguecidos, nossa sina será
materializar em breve as palavras de Carlos Drummond de Andrade, no poema O
Homem e as Viagens 2, publicado no
livro As impurezas do Branco, de 1973; ou seja, nos faltará lugar para fincar pé na imensidão incomensurável do céu.
1 Ambição, geralmente, por propriedades
e/ou bens materiais; desejo excessivo por riquezas; cobiça que faz abandonar os
principais valores morais.