Páscoa é tempo de metamorfosear a alma; então, pense nisso...
Cuidado
com a inveja, as aparências enganam...
Por
Alessandra Leles Rocha
Em seu discurso de
posse, em 1994, Nelson Mandela diz em determinado momento que “nosso medo mais profundo não é que sejamos
inadequados. Nosso medo mais profundo é que sejamos poderosos demais. É nossa sabedoria,
nossa LUZ, não nossa ignorância, nossa SOMBRA, o que mais nos apavora. Perguntamo-nos:
‘Quem sou eu para ser brilhante, belo, talentoso, fabuloso? ’ Na verdade, por
que você não seria? Você é um filho de Deus. Seu medo não serve ao mundo. Não
há nada de iluminado em se diminuir para que outras pessoas não se sintam inseguras
perto de você. Nascemos para expressar a Glória de Deus que há em nós. Ela não
está apenas em alguns de nós; está em todas as pessoas. E quando deixamos que
essa nossa luz brilhe, inconscientemente permitimos que outras pessoas façam o
mesmo. Quando nos libertamos de nosso medo, nossa presença automaticamente
liberta outras pessoas”.
Mas, apesar dele
ter razão; o que nos impede de tornar suas palavras uma máxima dentro da
realidade cotidiana é a experimentação amarga, perversa e real da INVEJA humana.
Sim, vivemos sob uma atmosfera tóxica e pesada constituída por esse sentimento
tão absurdamente pequeno e mesquinho, que limita a percepção do indivíduo de
maneira tão incisiva que ele paralisa o seu próprio ser.
A inveja não
edifica, não agrega, não traz nada de produtivo. É um sentir vazio e solitário,
de alguém que não se sente capaz o suficiente de tomar as rédeas da própria vida
pelas mãos. E, assim, ele para pelo caminho na observação destrutiva do alheio.
Seu olhar só almeja o que lhe parece fácil, aprazível, como se o viver do outro
fosse um eterno navegar em mares de calmaria. Como diz o ditado, “para o
invejoso, a grama do vizinho é sempre mais verde”.
Segundo Miguel de
Cervantes, “a inveja vê sempre tudo com
lentes de aumento que transformam pequenas coisas em grandiosas, anões em
gigantes, indícios em certezas”. Penso que o invejoso nunca olhou para as
próprias mãos. Jamais percebeu a desigualdade que reside em si mesmo e nem deu
conta de que por ela, tanta coisa importante se constrói em favor do bem. Graças
às diferenças que transcendem ao morfológico da vida é que o movimento de
evolução e de transformação operam milagres maravilhosos.
Diferenças que se somam
que se completam, para constituir o novo, para satisfazer as demandas, para
mover as engrenagens do cotidiano. Cada um com suas habilidades e competências.
Cada um com seu jeito único e especial de ser. Cada um contribuindo na exata
medida das suas possibilidades. Cada um carregando na alma seus espinhos, suas
feridas, o peso de uma cruz que não se vê.
E se a inveja
arrasta o mal para perto de quem é alvo dela, faz pior para quem a manifesta. Sem
se dar conta, o invejoso deteriora o corpo e o espírito, no dispêndio de uma
energia que poderia utilizar para fazer o bem a si e ao mundo. Ele não percebe
que a inveja arde como fogo, queima lentamente e no fim, não restam cinzas, não
resta nada que se aproveite. Afinal, a vida dos outros é dos outros; ao
invejoso cabe apenas a tortura de ser um mero telespectador.
Sabemos que esse
sentimento se move ao longo da história da humanidade. Sempre houve inveja. Mas,
propor a reflexão sobre ela nos tempos atuais é muito oportuno, porque a
humanidade caminha cada vez mais veloz na sua sede de consumo, de TER ao invés
de SER, e esse é um movimento motivador para sentimentos nada edificantes, como
é o caso da inveja.
As pessoas têm se
dedicado a uma frenética busca pelo material, se consumido na frustração do
impossível. No fim das contas, o que parece lhes restar nessa odisseia
desvairada da contemporaneidade é se refugiar na equivocada contemplação do
outro, como se isso pudesse aplacar os seus insucessos, os seus limites,
enfim...
Somos a junção de
bilhões de átomos, moléculas, que guardam toneladas de energia. Vivemos a
dissipar essa carga no ambiente; às vezes de maneira altruísta, outras, destrutiva.
É preciso, então, cuidado no coexistir. É preciso consciência sobre o bem e o
mal que trazemos ao mundo, porque fazemos parte dele também.
Como alguém
escreveu, “antes de julgar a minha vida
ou o meu caráter... calce os meus sapatos e percorra o caminho que percorri, viva as minhas tristezas, as minhas dúvidas e as minhas alegrias. Percorra os
anos que percorri, tropece onde eu tropecei e levante-se assim como eu fiz. E então,
só aí poderás julgar. Cada um tem a sua própria história. Não compare a sua
vida com a dos outros. Você não sabe como foi o caminho que eles tiveram que
trilhar na vida”.
Portanto, sem essa
de inveja boa! Inveja é inveja! A tarefa que nos cabe é cortar-lhe a raiz. É não nos permitir o desenvolvimento de
ideias, de sentimentos nocivos e corrosivos como ela. É olhar para si mesmo,
buscando encontrar o que de melhor habita em nós. É se conscientizar de que
cada um traz consigo uma bagagem, cuja capacidade de carregar pertence ao seu
dono. Cuidado com a inveja, as aparências enganam... Tanto a respeito do
invejoso, quanto sobre quem ele se compraz em invejar.