Sobre os céus brasileiros voam aves de rapina

Sobre os céus brasileiros voam aves de rapina

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

É certo que os ventos da mudança sopram, nesse exato momento, sobre o mundo. Contudo, velhas práxis insistem em permanecer vigorando. Vamos e convenhamos, nesse sentido, a história brasileira tem mais motivos para chorar do que para rir.

Um deles diz respeito, exatamente, a política feita na surdina, de forma dissimulada, secreta, furtiva ou sem alarde, sem que o público, a grande massa da população, saiba o que está acontecendo ou possa dar a sua opinião.

Não se engane, caro (a) leitor (a)! Os absurdos, os vexames, a desfaçatez, não se concentram apenas nas figuras de certas alas político-partidárias que compõem o Congresso Nacional. Dentro e fora de Brasília, a capital federal, há milhares de apoiadores, de simpatizantes, de financiadores e de mentores, do ideário direitista brasileiro, remanescente daquele nutrido pelas elites dominantes, nos tempos coloniais.

Portanto, historicamente, o predomínio de oligarquias, ou seja, estruturas sociais cuja elite dirigente emana das classes dominantes tradicionais, representada pelos grandes comerciantes e grandes proprietários de terras, e cujo monopólio do poder político serve exclusivamente para o enriquecimento dos membros de sua própria classe.

E esse entendimento é fundamental diante das profundas tensões em que vive o Brasil. Apesar de muitos acontecimentos estarem ocorrendo diante dos olhos do país, tais como os julgamentos relativos à tentativa de golpe de Estado de 2023, pelo supremo Tribunal Federal (STF); a ocupação do Congresso Nacional pela Direita e seus matizes, na retomada dos trabalhos em agosto desse ano; a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 3/21, que amplia o foro privilegiado, restringe processos criminais contra parlamentares e acrescenta voto secreto às decisões, pela Câmara dos Deputados; a aprovação da urgência para votação de anistia, que busca beneficiar os envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, quando extremistas invadiram as sedes dos Três Poderes, em Brasília.

Contudo, há muita coisa transitando na surdina. Aliás, todas as vezes em que a Direita nacional e seus matizes, se veem em situação de ameaça ou desconforto, o nome escolhido para encontrar uma “solução” tem sido sempre o do ex-presidente do Brasil, entre 2016 e 2019.

Pois é, apesar de estar agindo com o mínimo de ruído ou visibilidade possível, já consta na imprensa nacional a sua ladainha condescendente. Mais uma vez, ele vem minimizando a tentativa de golpe, que está sendo julgada pelo STF, além de defender uma ideia de anistia, em que sejam reduzidas as penas dos condenados a fim de “pacificar o país”.  

Só para recapitular, o Brasil já teve 48 anistias aprovadas desde a Independência, em 7 de setembro de 1822. A mais recente ocorreu em 1979, quando o país aprovou uma anistia ampla, geral e irrestrita, em relação aos envolvidos, vítimas e algozes, nos chamados Anos de Chumbo, entre 1964 e 1985.

De modo que é preciso perguntar: houve pacificação? Após os conflitos, a anistia conseguiu, de fato, restaurar a harmonia e a ordem social, trazendo à tona uma sociedade mais justa e pacífica, através do diálogo, da justiça social e da cultura de paz, como também uma realidade unificada sem a dominação de um grupo sobre outro?

Não. Tanto que o Brasil está diante de flagrantes e profundas tensões políticas, em pleno século XXI, por conta de uma nova tentativa golpista.

O que uns e outros ousam chamar de pacificação pela anistia, na verdade, não passou de um processo de atenuação, no sentido de reduzir, suavizar ou diminuir a intensidade, a força ou o impacto de algo que afetou a sociedade, de maneira perversa, cruel e brutal, nas diferentes camadas das suas relações sociais.

Portanto, tudo não passou de um remendo diplomático para tornar a proposta mais aceitável, mais palatável; sobretudo, às linhas dissidentes que se mantinham ligadas e alinhadas ao regime militar e ao ideário político-partidário da Direita nacional. Tanto que a tentativa de golpe de Estado de 2023 não deixa dúvidas a respeito!

Daí a necessidade da vigilância, da atenção. Sobre os céus brasileiros voam aves de rapina, personificadas por figuras que não medem esforços para atingir seus objetivos. Que são ambiciosas e, por vezes, implacáveis para conseguir o que querem, o que desejam.

E elas, definitivamente, não querem um país livre, justo e solidário. Não querem Democracia. Não querem Estado de Direito. Querem que tudo permaneça na mesma, sem alteração, segundo suas vontades. Querem suas regalias, seus privilégios, seus poderes.

Então, para garantir que esse momento de total ineditismo histórico, quando o Brasil começa a reparar os absurdos, as traições, as vergonhas, seja de fato consolidado, que cada cidadão consciente da sua identidade nacional proclame bem alto o seu NÃO.  

NÃO À ANISTIA. NÃO À PEC DA BLINDAGEM. NÃO AOS DESMANDOS DO CONGRESSO NACIONAL. NÃO AO RETROCESSO DA DIREITA E SEUS MATIZES; SOBRETUDO, OS MAIS RADICAIS E EXTREMISTAS.