Prorrogar... Será mesmo uma luta contra o tempo?

 

Prorrogar... Será mesmo uma luta contra o tempo?

 

Por Alessandra Leles rocha

 

A palavra prorrogação esteve sempre presente no vocabulário do brasileiro em razão do seu péssimo hábito de deixar tudo para o amanhã. No entanto, as recentes prorrogações que se têm visto pipocar pelo país dão conta de uma outra situação, a falta de planejamento governamental.

Quando se fala que houve um desmantelamento da governança nacional, não se trata de picuinha ou qualquer rusga político-partidária. Não, trata-se da mais pura verdade! Infelizmente, a propósito de varrer do mapa quaisquer vestígios de uma gestão holística e preocupada com seu papel dentro das políticas públicas, o atual governo decidiu colocar abaixo as estruturas e não se preocupou com os vazios e lacunas que emergiriam desse processo.

Acontece que a vida não flui mediante vontades e quereres, tudo tem uma lógica que precisa ser respeitada para que as repercussões não venham se agigantar a tal de ponto de obstaculizar os processos. De modo que as prorrogações que se vêm noticiando pelos veículos de informação e comunicação são a prova cabal disso.

Vejam, “Pelo menos 12 estados e o DF prorrogam campanha de vacinação contra poliomielite” 1, “Governo prorroga por mais 30 dias prazo para atualização do Cadastro Único” 2. Dois assuntos importantíssimos, que afetam diretamente a vida dos cidadãos; sobretudo, os mais socialmente vulneráveis, e que apontam a carência de planejamento e de estratégia de ação adequados para resultarem os objetivos esperados.

Pois é, a prorrogação não se dissocia do desperdício, da ineficácia, do prejuízo, porque ela chega, quase sempre, vestida pela alcunha de remendo. E este, caro (a) leitor (a), é sempre feio e insuficiente! De modo que evidencia o despreparo, a incompetência, a inabilidade, de alguém ou de alguns para gerir as situações a contento.

E assim, as prorrogações ao tentarem esticar o tempo implicam na postergação de soluções, as quais, muitas vezes, seriam da ordem da urgência e da emergência. Hospitais e serviços de saúde. Estradas. Compras de medicamentos. Escolas. ... Porque as prorrogações não têm um viés estritamente objetivo. Na verdade, seus desdobramentos ultrapassam as fronteiras e alcançam questões de natureza subjetiva, também.  Mas, quem se preocupa?

Sem contar que elas subtraem a previsibilidade orçamentária em meio aos aditivos que vão surgindo pelo caminho. O que significa que no fim da história o preço pago nunca é o que deveria ter sido. Portanto, elas não só contribuem para o mau uso dos recursos como para a inação das engrenagens públicas, considerando o alcance de resultados aquém do demandado apesar dos investimentos operacionalizados.

Contudo, isso se tornou tão trivializado no país que uma imensa maioria da população já deixou de pensar que sobre seus próprios ombros recai o ônus das prorrogações. Que é ela quem paga o altíssimo custo dessa enovelada teia de má administração, sem que ao final receba sequer alguma restituição em forma de benefícios por tamanho sacrifício de espera e de investimento.

No fim das contas, aos que acham graça nas prorrogações, saibam que elas são a prova viva de que o nosso desenvolvimento, o nosso progresso, o nosso protagonismo segue com elas de mãos dadas para um futuro cada vez mais incerto. Prorrogar não tem nada de esperteza, de coisa boa, não! Prorrogar não é questão de escolha ou de liberdade, como muitos tentam fazer parecer. Prorrogar tem um ar de certa indisposição, de má vontade, de preguiça, de descaso, de quem teve tudo para fazer na hora certa e não fez; por isso, a prorrogação cobra um preço alto.

A contemporaneidade pode até parecer mais flexível, mais tolerável; mas, ninguém foge às responsabilidades, às obrigações, aos compromissos.  De um jeito ou de outro elas nos batem à porta, nos cobram a fatura. Porque a vida é assim, o que tem de ser feito, tem de ser feito! Mais dia menos dia há de se cumprir. Como dizem os árabes, “maktub”, já estava escrito! Então...