Conhecimento, Bruxaria e Inquisição...

 

Houve um tempo em que pessoas eram condenadas a arder nas fogueiras pelos seus conhecimentos… Mas, será que tudo isso ficou mesmo nos confins da história? Entre letrados e incultos, a Educação brasileira queima em pleno século XXI; quando, assistimos aos drásticos cortes orçamentários impostos pelo governo ‘educador’, enquanto na outra margem uma legião de diplomados está sem a menor expectativa de emprego.

De fato, a bruxa parece estar solta; mas, quem sente o flamejar das labaredas somos nós. Estudar ou não estudar, eis a questão? Valeu ou valerão a pena todos os esforços para sentar nos bancos da escola, em meio ao caos político e econômico em que vive o Brasil? Parafraseando a personagem Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, “Num paga a pena”…

Não, não sou contra estudar, aprender, adquirir conhecimento, ampliar a visão de mundo. Em absoluto. Esse é o tesouro mais precioso que se pode ter na vida. Sem ele não passamos de indigentes pela própria existência. Cativos pela dominação da ignorância, que humilha e rebaixa a condição do homem, que tira a sua dignidade e ludibria a sua credulidade.

Mas, quem estuda espera mais de si; espera mais do mundo. Não há como se contentar com as migalhas de um pão dormido e de um circo sem nenhuma graça. Não há como viver de sonhos enquanto a realidade cobra o quinhão de cada dia. Daquele pedaço de papel importante, escrito com esmero, outorgando a conquista do saber, resta um sabor amargo e insuficiente diante de tantos senões da vida. Estamos no extremo da contradição do discurso.

A realidade atual é lastimável. Quanto mais se estuda, se qualifica para o mercado de trabalho, menores são as ofertas de emprego. As vagas se concentram cada vez mais em trabalhos cuja exigência de estudo é pequena e cuja remuneração não alcança dois salários mínimos. Enquanto isso, as informações pela mídia dão conta das propostas para redução salarial e da jornada de trabalho, como forma de garantir a manutenção de trabalhadores em determinados segmentos profissionais.

No contraponto de países que se ergueram como grandes potências mundiais a partir do investimento bem planejado no sistema educacional, o Brasil faz de suas deficiências e incompetências o combustível suficiente para justificar a sua estagnação. Vai alta a chama que queima os sonhos, as esperanças, do povo brasileiro.

Mas, por que o espanto, se no início da colonização os donos da terra foram brutalmente aculturados? O que o país tem feito ao longo dos séculos com a Educação é tão somente uma nova modalidade de aculturação; aquela em que ao invés da transformação da cultura de um grupo, pela assimilação de elementos culturais de outros com quem mantém contato direto e regular, nivela todos pela ignorância absoluta oriunda de uma Educação pobre e ineficiente. Basta ver o número crescente de seus analfabetos ‘funcionais’.

Na medida em que corta os investimentos para a Educação e limita a sua capacidade de cumprir com o seu papel constitucional e de pilar da ordem e do progresso do país, presenciamos o abandono com as atuais e futuras gerações. Na medida em que se negligenciam todos aqueles já formados ou em fase de formação, tirando-lhes a oportunidade de exercerem seu ofício dignamente, presenciamos o descaso com a cidadania. A fogueira da inquisição contemporânea nos condena então, a morrer pelo conhecimento ou pela infidelidade de não tê-lo buscado; pois, no fim das contas, como disse o provérbio espanhol, “No creo em brujas, pero que las hay, las hay”.

Postado em 22/07/2015 no https://www.paralerepensar.com.br/paralerepensar/texto_jornal.php?id_publicacao=38661



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