E não é que as mentiras cresceram!

 

E não é que as mentiras cresceram!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

É; a que ponto chegamos! 1º de abril perdeu seu status lúdico e divertido. A sociedade não precisa mais de um dia no calendário para diversão coletiva, quando desfruta de 365 para esbanjar nas Fake News. Sim, as mentiras se aprimoraram e ocuparam espaços no cotidiano. Perderam a ingenuidade inofensiva para tornarem-se mecanismos de destruição social. O que a Pós-Modernidade fez!

Sob a batuta das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) a disseminação das inverdades ou verdades distorcidas ganhou um terreno fértil para prosperar. Um toque na tela dos celulares, i-pads, i-pods e afins e o fluxo de notícias confunde a realidade. A tal ponto que foi necessário criar veículos de checagem de informação para evitar consequências desastrosas. Os limites se esgarçaram tão completamente, que é desafiador descobrir onde começa a verdade e onde termina a mentira.

No entanto, tudo isso está longe de ser engraçado. Porque as Fake News desconhecem limites e preceitos éticos e morais. Elas são regidas por interesses escusos e nada bem-intencionados. Estão sempre em busca de extrair algum lucro das suas ações. Mesmo que isso custe o bem-estar coletivo, a saúde pública, a consciência humanitária e cidadã.

O que é extremamente grave, pois subentende-se que a mentira caiu no gosto popular. Num piscar de olhos ela saiu da condição que figurava, ou seja, uma conduta pouco apreciável e aceita socialmente, que merecia algum tipo de repreensão. Haja vista a quantidade de pessoas incumbidas e pagas para construir e promover a divulgação de Fake News diariamente, ao redor do mundo. Quem iria pensar que a mentira pudesse se transformar em profissão!

Se aconteceu é porque encontrou uma plateia cativa para lhe dar respaldo. Pessoas que estão cada vez dispensando menos tempo para uma leitura com qualidade sobre o que acontece no mundo. Porque apesar das pesquisas na área das TICs apontarem para o fato de que os indivíduos permanecem cada vez mais tempo conectados ao mundo virtual, isso não significa, necessariamente, uma proporcionalidade em relação ao aprimoramento intelectual dessa conexão.

O volume de informações que circulam é tão absurdamente incompatível a sua assimilação que o nível de atenção dispensado pelas pessoas se torna superficial. Por isso é tão fácil para as Fake News tornarem-se parte integrante e integrada desse campo minado das comunicações digitais. Elas acabam por se mimetizar ao ambiente em que estão inseridas e, quando menos se espera, são inadvertidamente incorporadas como verdade no senso comum de determinados grupos.

Ainda que o provérbio continue válido, ou seja, “mentira tem perna curta”, no que diz respeito às Fake News há uma demanda maior de apuração investigativa até poder se bater o martelo a respeito. Portanto, até que sejam efetivamente desmascaradas elas tomam um tempo precioso dos especialistas; mas, por outro lado, ganham muitas oportunidades para agir e causar estragos sobre a grande massa da população.

De certa forma, as mentiras contemporâneas têm trazido à tona uma reflexão importante sobre o universo do individualismo, tão presente no mundo. Seus criadores e disseminadores estão alheios a qualquer sentimento empático. Dentro de suas “bolhas” individuais eles não se sentem ameaçados ou perturbados em relação aos prováveis prejuízos, de diferentes naturezas e formas, causados a milhares de terceiros.

É possível pensar até, que de algum modo peculiar, alguns sintam prazer diante do poder que têm nas mãos. Ou se vangloriem pela adrenalina de uma eventual impunidade. Afinal, as Fake News são sim, um tipo de máscara que esconde rostos e intenções humanas. De seu lugar, no enigmático mundo das telas, eles controlam e manipulam a credulidade, a escolha, os caminhos que os outros devem seguir. Assim, o prazer da mentira pode se traduzir no fato de que “a felicidade é a ânsia de repetição” (Milan Kundera – escritor Checo).

Não é sem razão, portanto, que “as mentiras têm uma grande vantagem sobre os raciocínios: a de serem admitidas sem provas por uma multitude de leitores” (Alessandro Manzoni – escritor e poeta italiano). De modo que a sociedade se absolve da imprevidência pela dinâmica da vida e só entende o preço pago por isso, quando nem sempre é possível reverter o caos e os prejuízos. Talvez seja hora de nos darmos conta, então, de que as mentiras cresceram.