Crônica do fim de semana


Oásis...




Por Alessandra Leles Rocha




Como nos desertos, a vida também tem os seus oásis. E como são importantes! Sem essa pausa miraculosa para se afastar da aridez do mundo que nos ronda, sobreviver não seria possível. Faltaria força. Faltaria disposição. Faltariam sonhos. Faltariam perspectivas. Enfim...
Mas, o que seriam esses oásis?! Cada um tem sua resposta. Afinal, cada indivíduo enxerga e entende a vida de uma forma, por um prisma diferente. Pode ser uma pausa sabática. Uma viagem. Momentos de meditação. Sessões de cinema. Curtição na balada. Reuniões entre amigos, família e/ou pessoas queridas. ...Ou seja, tudo que represente uma ruptura com a rigidez cotidiana e transcenda corpo e alma para um lugar de paz e relaxamento, capaz de fazer você sentir uma segurança e um bem-estar indizível.
Tarefa difícil?! No mundo em que se vive, talvez. Mas, dificuldade não é sinônimo de impossibilidade. Por isso, almejar esse oásis. Estar disponível para ele. Não adianta pensar que a vida se encarrega de realizar tudo e pronto, ninguém precisa mover um dedinho. Nada disso. A vida faz a parte dela. Você e cada um de nós fazemos a nossa.
A questão, talvez, sejam as escolhas e prioridades que são estabelecidas no dia a dia. A humanidade pensa em milhões de coisas, mas anda meio desligada do essencial, o ser humano. Pois é, nada do que se realiza cotidianamente faz realmente sentido se não houver pessoas participando ativamente do processo e desfrutando dos resultados. O que significa dizer que tudo isso depende de pessoas de bem consigo mesmas, felizes, motivadas, para que ações e repercussões expressem êxito.
Mas, se não há um espaço, um momento para olhar para si mesmo, o efeito cumulativo da vida cobra a conta, por meio de uma das palavras mais pronunciadas atualmente, o stress. Seu reflexo está no silêncio, na melancolia, na desesperança, na angústia, na ansiedade, nas variações de humor etc.etc.etc.; como se o mundo estivesse, literalmente, sobre os ombros de cada um; pesado, muito pesado. As pessoas “arrastam suas correntes”, então, como almas perdidas que vagueiam sem saber para onde, de modo que um cansaço extenuante lhes consome até os sentidos. Carece-lhes o alento, o oásis.
Não precisa ser muito. Não precisa ser sempre. A questão é estar atento ao limite que se faz necessário um oásis. E a permanência nele deve ser somente o suficiente para atender as suas demandas. Pode ser para pensar. Para pacificar a alma. Para recobrar a alegria. Para compartilhar... Para extravasar emoções e sentimentos. Afinal, os oásis existem para nos despertar o ócio criativo e não, a ociosidade. Porque os benefícios de um oásis repercutem em todos os campos da vida.
Sem contar que eles promovem uma reconexão das relações humanas de modo muito mais pleno e inteiro, contrariando as tendências tão presentes na contemporaneidade, ou seja, o individualismo, o isolamento, a efemeridade. E a explicação é simples, porque o oásis representa algo totalmente diferente do habitual. Portanto, as relações ali têm que ser olho no olho. Verbalizar sem aparatos tecnológicos. Experimentar efetivamente as sensações e emoções da convivência, da coexistência. Sem truques. Sem artifícios.
Nesse sentido, quando escrevo sobre isso não posso deixar de me lembrar do filme Cidade dos Anjos (City of Angels), de 1998. O encontro das personagens principais do filme representa um modo de expressar esse oásis; uma conjuntura particular que possibilita a eles poderem abdicar da sua realidade para vivenciar um grande amor. Apesar de todo o aspecto fantástico que envolve a história, a verdade permanece intacta: somente nos oásis se podem experimentar situações únicas e quem sabe, inimaginadas.
Distante do caos. Distante da aridez. Distante da solidão. Um oásis faz jorrar vida.  A passagem por ele é, portanto, sempre profícua, sempre positivamente impactante, sempre renovadora. Ensinava Osho, um guru indiano líder do movimento Rajneesh, “a primeira e mais importante coisa é ser amoroso consigo mesmo. Cuide de si mesmo. Aprenda como se perdoar, cada vez mais e novamente; sete vezes, setenta e sete vezes, setecentos e setenta e sete vezes. Assim você irá florescer. Nesse florescimento você atrairá alguma outra flor. Isso é natural. Pedras atraem pedras; flores atraem flores”.
Então, não deixe escapar um oásis sequer do seu caminho. Segundo escreveu o escritor norte-americano F. Scott Fitzgerald, em O Curioso Caso de Benjamin Button, publicado em 1922, “para as coisas importantes, nunca é tarde demais, ou no meu caso, muito cedo, para sermos quem queremos. Não há um limite de tempo, comece quando quiser. Você pode mudar ou não. Não há regras. Podemos fazer o melhor ou o pior. Espero que você faça o melhor. Espero que veja as coisas que a assustam. Espero que sinta coisas que nunca sentiu antes. Espero que conheça pessoas com diferentes opiniões. Espero que viva uma vida da qual se orgulhe. Se você achar que não tem, espero que tenha a força para começar novamente”.

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