Leia e reflita!


Alfabetização e Letramento Digital: já pensou sobre isso?




Por Alessandra Leles Rocha




A superficialização a qual a sociedade tem dispensado as suas análises sobre o simples e o complexo do cotidiano, a afastam, sobremaneira, do que realmente é fato e essencial. Um bom exemplo disso é a tecnologia da informação. Usar ou não usar o que se tem de mais avançado em termos tecnológicos nos dias atuais? A escolha é sua; pois, na verdade a grande questão a ser discutida passa longe disso.
Em meio aos computadores, notebooks, tablets, iphones e outros dispositivos eletrônicos, a humanidade foi arremessada repentinamente contra uma onda contínua e acelerada de informações, sem que tivesse o devido tempo para assimilar adequadamente tamanha transformação.
E apesar dessa conjuntura um tanto quanto caótica, as pessoas foram se entregando à novidade para não perder seu espaço social; sobretudo, no que diz respeito às relações de trabalho e educacionais. Pois é, aqui e ali cada um deu o seu jeitinho de “aprender” a manusear as novas ferramentas e manter o fluxo da vida o mais “normal” possível.
Porém, essa disposição atabalhoada diante da tecnologia mais dia menos dia iria apresentar o ônus desse processo. Vejamos que a tecnologia veio nos trazer de novo dois grandes pilares da nossa existência humana: a comunicação e a informação para a construção do conhecimento.
Voltemos, então, ao início de nossas vidas para pensarmos como esses dois elementos nos foram apresentados. Ora, tudo começou pela fala. Falando pouco, falando errado, até falarmos corretamente. Momento esse que culminou, praticamente, com o nosso ingresso à vida escolar. Ah, fomos à busca da escrita para ampliar nossos horizontes.
Ir para a escola, portanto, foi fundamental para que pudéssemos aprimorar a nossa comunicação e informação para a construção do conhecimento, de modo a extrair o que de melhor esse processo é capaz de oferecer. Assim, primeiramente fomos alfabetizados, ou seja, desenvolvemos a habilidade de ler e escrever a partir do reconhecimento dos símbolos, signos e palavras que compõem o arcabouço escrito.
De posse da alfabetização cada um de nós foi conduzido a outro processo, denominado letramento, para o desenvolvimento e uso das competências adquiridas dentro das práticas sociais, o que significa ser capaz de se informar por meio dos gêneros textuais, interagindo, criando e interpretando-os a partir do seu senso crítico e reflexivo.
Infelizmente, em pleno século XXI, o que acabo de escrever ainda não faz parte da realidade de milhões de pessoas mundo afora. Ainda somos obrigados a nos deparar com altos índices de analfabetismo e de analfabetismo funcional, o qual significa a presença de indivíduos sem letramento em uma sociedade, ou seja, sabem ler e escrever, mas não são capazes de compreender e/ou produzir uma opinião.
Então, imaginem a realidade sob a ótica da tecnologia! Ela chegou, mas não veio amparada por um processo de alfabetização digital e nem tampouco, de letramento digital. Não se esqueçam de que nem mesmo os manuais de funcionamento dos eletrodomésticos convencionais (geladeira, televisão, fogão etc.) as pessoas se habituaram a ler antes de usar.
Com a tecnologia da informação o que ocorreu foi uma comercialização desenfreada dos serviços, dos aparelhos, e só. A aprendizagem foi basicamente na troca de informações entre os usuários, apesar da existência de cursos e escolas voltadas para esse tipo de ensino. O desinteresse, talvez, perpasse pelo custo, pelo tempo, pela falta de incentivo e de oportunidade; enfim, não há como cravar uma justificativa com precisão.
Então, mal alfabetizados digitalmente, o que esperar do letramento digital? Nada. Porém, a carência desse tipo de letramento reflete diretamente na ausência de filtro diante do imenso fluxo de informações. Os usuários da tecnologia não desenvolveram suas habilidades e competências para usufruir do mundo digital com propriedade para construir conhecimento.
De fato, a grande maioria não sabe separar o lixo tecnológico da web, não sabe se esquivar das Fake News, não sabe priorizar o seu tempo de acesso, enfim... Navegam sem bússola ou quaisquer outros instrumentos de orientação por um espaço repleto de perigos e desafios a cada segundo. Muitos, inclusive, pensam que são verdadeiros ases da tecnologia e podem tudo, não precisam estabelecer limites de nenhuma ordem ou natureza.  
Só que essa “deseducação” tecnológica, essa lacuna na alfabetização e letramento digitais, principalmente no ambiente escolar, tem comprometido desde o aprendizado convencional até as próprias relações sociais, especialmente no que diz respeito à consolidação de uma violência sem rosto.
É publico e notório que as manifestações de violência social se iniciam atualmente pelo ambiente virtual. Há uma falsa percepção e compreensão sobre a existência de regras, leis e princípios que regem o ambiente tecnológico. A internet não é uma “terra sem lei”.
Mas, por outro lado, ela ainda garante uma visibilidade tão significativa que atrai as pessoas, sem que elas percebam ou se deem conta dos riscos que estão correndo. Seja pela necessidade de autoafirmação social, ou de pertencimento social, ou de construção identitária, tudo isso tem levado a sociedade a se vulnerabilizar e se expor de modo bastante temerário.
Não são à toa os inúmeros casos de bullying, de apologia aos distúrbios alimentares, de projetos que levam ao suicídio, de alistamento para grupos terroristas, de manifestações de intolerância e ódio presentes no ambiente virtual e que culminam por encontrar adeptos e promover vítimas.
Como se vê esta não é uma questão de certo ou errado, de bom ou ruim. Esta é uma questão de educação, de alfabetização e letramento digital. Temos informação demais e conhecimento de menos; então, a conta não fecha e a sociedade se prejudica se torna vítima de si mesma. Com a alfabetização e o letramento digital conseguiremos uma consciência maior, um senso crítico apurado sobre a nossa relação entre o real e o virtual.  Só não nos esqueçamos de que para alcançar esse propósito, antes precisaremos terminar o que está pelo caminho que é a alfabetização e o letramento convencional. Portanto, antes de demonizar isso ou aquilo há muito trabalho esperando para ser concluído e, pelo qual, a sociedade anseia e aguarda para realmente se desenvolver.