“A culpa é minha. Disse uma coisa que ele não estava pronto para ouvir.” (A Chegada)


Até aonde podemos chegar?



Por Alessandra Leles Rocha



Sábado é dia de cinema, refrigerante, pipoca, olhos grudados na tela... É dia da Sétima Arte. Então, sentei confortavelmente no meu sofá e fui assistir a um dos presentes do último Natal, o DVD de A chegada (Arrival). O filme havia sido sugerido por uma antiga professora de Português e diante do seu entusiasmo ao falar sobre o mesmo, decidi incluí-lo na minha última lista de presentes.
Lançado em 2016, o filme foi dirigido por Denis Villeneuve e estrelado pelos atores Jeremy Renner (o físico Ian Donnelly), Forest Whitaker (Coronel Weber) e pela atriz Amy Adams (a Linguista Louise Banks) é um suspense de ficção científica que busca na linguística e na matemática os instrumentos para impedir uma guerra global contra alienígenas.
Assim, a base argumentativa do filme é a Hipótese de Sapir-Whorf1, bastante difundida a partir da segunda metade do século XX, e que, em linhas gerais, diz que a estrutura e o vocabulário de uma língua são capazes de moldar os pensamentos e as percepções de seus falantes, de modo que a cognição e a língua seriam inseparáveis.
No entanto, as minhas considerações sobre o filme não recaem especificamente sobre esse ponto.  Afinal, em tempos onde a diversidade e o excesso de ruídos têm obstaculizado as relações humanas no campo da comunicação, o cinema nos oportuniza pensar mais profundamente a respeito disso.
Desde os primórdios da colonização, a sociedade humana vive os impactos da imposição linguística como forma de controle e poder. A supremacia de algumas línguas sobre outras, tentando reduzir a comunicação a um único substrato, causa impactos negativos, ainda hoje, em diversas populações.
Isso sempre me faz lembrar as seguintes palavras de Nelson Mandela, “Se você falar com um homem numa linguagem que ele compreende isso entra na cabeça dele. Se você falar com ele em sua própria linguagem, você atinge seu coração”. Portanto, ao estabelecer abismos linguísticos que desconsideram a língua como elemento estrutural da identidade e da cultura do outro, a sociedade não está fazendo nada mais do que abrindo caminhos aos conflitos.
A invisibilização social que tem tomado conta da sociedade pós-moderna promove exatamente a incapacidade de reconhecimento da diversidade. Vivem-se tempos em que as diferenças ameaçam de tal forma que a disposição em conhecê-las e desmistifica-las se torna inexistente, ocasionando com frequência episódios de intolerância, preconceito e violência. É preciso entender que a tarefa de aprender a língua do outro não é uma questão simples e automática. Envolve toda a subjetividade humana, inclusive o nosso querer, a nossa identidade social, a nossa história, os nossos valores e princípios.
Infelizmente, ao contrário do que queremos acreditar, temos nos tornado uma sociedade de alienígenas. Nossa capacidade de reconhecimento e identificação está profundamente fragilizada, especialmente, pela carência de uma comunicação real. A linguagem não se resume só a utilização da língua, seus códigos e símbolos; mas, de todo um arcabouço não verbal.
E esse não verbal depende muito do corpo. Quantas as vezes em que o corpo fala contradizendo a expressão verbal? Ninguém duvida de que olhando nos olhos do outro se extraem informações valiosas, tantas vezes não decodificáveis em palavras. Pelo tom da voz se manifestam sentimentos e emoções diversas. Enfim... Língua e linguagem transcendem ao tempo e ao espaço humano.
Particularmente, penso que o título A chegada foi muito oportuno; pois, realmente precisamos chegar a um nível de comunicação mais satisfatório a nossa sobrevivência. Já dizia Madre Teresa de Calcutá que, "Todas as nossas palavras serão inúteis se não brotarem do fundo do coração. As palavras que não dão luz aumentam a escuridão”.  Portanto, precisamos nos comunicar para compreender e sermos compreendidos, suplantando pontos de vista e ideologias na busca não por uma única língua, mas pelo consenso de uma linguagem de coexistência pacífica e equilibrada. Afinal, só a comunicação nos dirá até aonde poderemos chegar.

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